São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Lula está mais forte

Gilberto Dimenstein
BRASÍLIA – A pesquisa Datafolha divulgada ontem revela importante tendência, registrada depois da inconfidência parabólica: a queda de Fernando Henrique Cardoso em regiões metropolitanas e, principalmente, nas camadas de maior escolaridade. Esse núcleo tem o dom de disseminar opinião pelo resto do país.
Ainda é cedo para se avaliar o impacto da saída de Rubens Ricupero –painel mais seguro só no final da semana. Até porque foram produzidos fatos novos que se mesclam à revelação do uso da máquina do governo: a demissão do ministro com seu discurso emocionado e, mais importante, sua substituição por Ciro Gomes.
O ponto central é o seguinte: Luiz Inácio Lula da Silva tem como meta passar ao segundo turno. Discute-se aqui algo como seis pontos. Não é muito: supondo que Fernando Henrique caia dois, basta todos os demais ganharem mais quatro pontos.
Na esperança de reduzir essa diferença, Lula, Quércia, Brizola e Amin aumentaram o bombardeio para tentar ferir a credibilidade do real. Baseados na sensação de fracasso com os planos passados, querem, no mínimo, estimular a desconfiança. O episódio da parabólica não poderia ser mais perfeito para esse propósito.
Daí o esforço do governo e do PSDB em gerar fatos novos. Ciro Gomes convidou ontem Lula para conversar e expor seus planos. Disse que pretende lhe mostrar, face a face, que não vai usar a máquina nas eleições. A jogada: se Lula recusa, parece um radical. Se aceita, legitima a indicação de Ciro que, agora, busca minar.
O essencial: a candidatura continua mal. Mas está várias vezes mais forte do que na semana passada. Se é suficiente para ir ao segundo turno, ainda é dúvida.
PS- Estou recebendo cartas indignadas pelas colunas elogiando a grandeza de Ricupero, ao pedir desculpas. Entendo as reações, muitas delas motivadas por bons sentimentos; outras, apenas por picuinha de campanha. Como repórter, já vi dezenas de homens públicos caírem. Nenhum deles, porém, com tanta dignidade. Eu me sentiria traindo minha consciência, embora não perdesse leitores, se não expusesse essa convicção. Meu papel como jornalista é denunciar a manipulação oficial e a histeria eleitoral.

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