São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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FHC em questão

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – O candidato do governo está coberto de razão quando diz que não precisa de obras (bicas d'água, pavimentação de estradas, creches) nem de suas inaugurações. Esses atrativos eleitorais podem funcionar como iscas para pescar em águas paroquiais. Um candidato à Presidência da República tem de pensar mais alto.
Foi assim que Fernando Collor pensou e chegou lá. Garantiu que acabaria com a inflação e acreditaram nele. Ressabiado com o fracasso de Collor, o candidato FHC colocou em campo, cronometrado com a data das eleições, o Plano Real –que é bem mais responsável e sofisticado do que o tiro grosseiro prometido por Collor.
Quem dispõe de um chamariz desses, de uma isca que está sendo garantida por US$ 40 bilhões, protegida pelas âncoras salarial e cambial, faria péssimo negócio e revelaria pior gosto se desse importância às bicas d'água, às creches, aos quilômetros de estrada recuperados.
Lembro os US$ 40 bilhões por causa do ex-ministro Rubens Ricupero. Ele não revelou uma novidade, apenas informou o que todos sabíamos: o governo tem reservas (o ex-ministro disse "eu tenho reservas") para escorar alguns preços e assustar os "bandidos" do mercado.
Não sou entendido em números, mas creio que esses US$ 40 bilhões dariam para construir uns 5.000 jardins da Dinda, comprar outros tantos Elbas e garantir compras de qualquer madame por algum tempo. O que está em questão, a partir de agora, é o grau de envolvimento do candidato com a truculência da máquina montada pelo governo para elegê-lo. Ricupero admitiu que não tinha escrúpulos, escondia e exibia dados escamoteando a verdade em favor do proveito político. Até que ponto FHC é apenas o beneficiário e até que ponto FHC é cúmplice da escamoteação oficial?
Lamenta-se que um homem como ele, por todos os títulos merecedor de ocupar a Presidência da República, encha seu palanque com os mesmos parceiros de Collor e revele a mesma falta de escrúpulos de Ricupero.

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