São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Mostra promove estranhos encontros

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Mais do que os filmes, dois encontros marcaram o dia de abertura da Mostra Banco Nacional de Cinema, na terça-feira. No início da tarde, o produtor e diretor Roger Corman, 68, encontrou o diretor brasileiro Carlos Reichenbach, 48.
No fim da tarde, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, encontrou o norte-americano Mike Vraney, que lançou os filmes de Zé do Caixão (com o nome de Coffin Joe) nos Estados Unidos. Agora, cuidam da finalização do novo trabalho de Mojica, "A Reencarnação do Demônio", que pode contar com a ajuda de Corman (por enquanto, é apenas um projeto).
No primeiro encontro, Corman mostrou uma vitalidade à altura de sua filmografia (é diretor de cerca de 50 filmes e produtor de mais de 200 títulos). Até as 13h já tinha dado quatro entrevistas e estava com mais duas agendadas.
Cansado com a maratona, não perdeu o humor: disse lamentar apenas que, nesta segunda visita a São Paulo, continua sem conhecer a cidade, por mera falta de tempo. Se alguém lembra que "virar um mito tem esses problemas", ele não se aperta: "É melhor ser um mito do que ser esquecido", diz.
Na verdade, Corman era visto quase como um picareta quando começou a carreira, em 1954. Montou um sistema de produção baseado no baixo custo e na exploração do mercado de cinemas drive-in nas cidades do interior dos Estados Unidos.
Foi sobretudo graças aos diretores que lançou (Francis Ford Coppola, Peter Bogdanovich, Martin Scorsese, Joe Dante, Jonathan Demme, Monte Hellman, Alan Arkush, James Cameron, entre outros), atores que revelou (Jack Nicholson, Peter Fonda, Dennis Hopper) e gêneros que difundiu (filmes de praia, de jovens rebeldes) que passou, aos poucos, a ser considerado um dos principais diretores e produtores norte-americanos da segunda metade do século.
Carreira similar à de Carlos Reichenbach, que inicia nos anos 70 uma obra de diretor baseada em pequenas produções de gênero e só a partir do fim dos anos 80 passa a ser reconhecido como autor.
Vraney é veterano do circuito alternativo norte-americano. Já foi empresário de bandas punk da Califórnia (como os Dead Kennedys) no fim dos anos 70 e início dos 80.
Vraney é um dos maiores colecionadores de filmes de baixo orçamento raros dos EUA, mas se considera sobretudo um caçador de talentos. Mojica é sua primeira grande descoberta fora dos EUA.

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