São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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O Brasil numa fria

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Todos ficamos comovidos com o ato de humildade do diplomata Rubens Ricupero pedindo desculpas à nação pela sua última aparição na TV como ministro da Fazenda. Lamentável, e bota lamentável nisso, a atitude do presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília que deseja cassá-lo do dever e do direito de dar aulas. Quando Nixon renunciou à Presidência dos Estados Unidos, alguns exaltados quiseram se mudar do prédio em que ele pretendia morar. Nixon deu a volta por cima.
Sendo Ricupero um católico praticante, na certa conhece a mecânica da absolvição. Não basta confessar a falta e pedir perdão a Deus e ao próximo. Dentro de suas possibilidades, o penitente precisa reparar a falta. E a reparação não se limita à confissão em si.
O ex-ministro fez referência às mutretas dos bancos, aludiu a "negócios" de CDBs, insinuou que o governo sabia e continua sabendo de coisas anormais ou ilícitas. Que coisas? Revelar essas coisas é um dos pontos que ele deveria incluir no mecanismo de seu arrependimento e na reparação de sua falta.
Assim como o ladrão só é absolvido se devolver o fruto de seu roubo, Ricupero só será realmente perdoado se devolver a verdade que nos foi roubada. Não seria uma vulgar "entregação". Trata-se do serviço público e da honestidade pessoal de um homem sabidamente probo.
O susto que ele pregou na Petrobrás ao anunciar uma queda no preço dos combustíveis precisa ser melhor explicado. Chamar de bandidos os empresários ("tudo é bandido") é acusação que exige prova. De duas, uma: ou o ex-ministro sacou, fazendo uma afirmação grosseira e mentirosa, ou ele tem elementos para considerar os empresários como bandidos. Que elementos são esses?
A turma do deixa-disso, interessada na eleição a fórceps de FHC, está tentando botar água fria no caso. Não é à toa que o Brasil vive numa fria.

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