São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
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Falta dinheiro para financiar a safra 95

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A liberação dos recursos para a próxima safra agrícola está ameaçada. A equipe do ministro da Fazenda, Ciro Gomes, teme que o dinheiro faça estourar os limites para a emissão de reais previstos pelo Plano Real.
O problema vem sendo represado desde agosto e caiu no colo do novo ministro. Informado do impasse em sua equipe, Gomes avalia ser necessária uma solução até a próxima semana.
Segundo o pacote agrícola anunciado no mês passado, o BB deve arcar com 75% dos recursos oficiais para a safra, ou R$ 4,2 bilhões dos R$ 5,6 bilhões previstos.
"Não estamos liberando porque não há dinheiro", explicou ontem o chefe de gabinete da Diretoria de Crédito Rural do BB, Edir Xavier. Motivo: o Banco Central determinou o recolhimento dos recursos disponíveis no BB.
Segundo a Folha apurou, a diretoria do Banco Central tem negado os pedidos de flexibilização do recolhimento compulsório dos recursos bancários, para conter o volume de dinheiro em circulação na economia.
A limitação desse volume é considerada um dos pontos-chave do Plano Real.
Foi determinado que, até o final de setembro, não mais que R$ 9 bilhões circulariam na economia. Hoje o volume está próximo de R$ 8 bilhões.
Para garantir o cumprimento da meta, em julho o Banco Central elevou de 48% para 100% o recolhimento de recursos das contas-correntes, de 15% para 20% o recolhimento sobre a poupança, e de zero para 20% o recolhimento sobre aplicações financeiras.
No final de agosto, o Banco Central endureceu o arrocho monetário. Os percentuais de recolhimento sobre a poupança e as demais aplicações passou para 30%, incidentes sobre o total de recursos e não mais sobre o adicional a partir de julho.
Em situações de queda brusca de inflação, há aumento do consumo e do volume de dinheiro na economia, gerando novas pressões sobre os preços.
Antes do real, a quantidade de dinheiro na economia não passava de US$ 3,5 bilhões.
Para solucionar o impasse do financiamento da safra, o Banco do Brasil propôs três alternativas: flexibilizar o recolhimento compulsório de recursos, utilizar dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador ou dos depósitos que as estatais fazem no Banco Central.
O BC recusou todas as propostas, sempre com o argumento de que ficaria comprometido o controle da quantidade de moeda na economia.
Só os R$ 1,1 bilhão a serem liberados ainda em setembro, mês de concentração do plantio, poderiam ser suficientes para estourar o limite de emissão estabelecido pela medida provisória do real.
Os financiamentos também estão comprometidos porque as dívidas passadas dos agricultores, de cerca de R$ 2 bilhões, não foram renegociadas pelo Banco do Brasil como previa o pacote agrícola.

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