São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
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Pacto de interesses

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Logo que Fernando Henrique decidiu candidatar-se à Presidência, o empresariado paulista fez um pacto de silêncio. O acerto partiu de uma constatação óbvia.
Em encontros reservados, alguns empresários avaliaram que, quanto menos elogios fizessem a Fernando Henrique, mais ajudariam o candidato.
Com a imagem em frangalhos, graças ao envolvimento com PC Farias, os empresários concluíram que o melhor a ser feito era manter um distanciamento tático em relação ao candidato.
Mais importante do que declarar apoio era assegurar o suporte financeiro à candidatura de Fernando Henrique. E, nesse campo mais do que em qualquer outro, o sigilo seria indispensável.
Não tem faltado dinheiro ao comitê tucano. Houve certa apreensão no início. Pragmáticos, os empresários aguardaram um sinal das pesquisas de opinião.
Era preciso ter certeza das condições eleitorais de Fernando Henrique. Constatada a viabilidade do investimento, os cofres do comitê tucano foram tonificados.
Reportagem publicada pela Folha demonstrou que o candidato conta com o apoio de grandes empresas, entre elas bancos, empreiteiras e redes de supermercados.
O susto provocado pelo incidente Ricupero, seguido de uma quase imperceptível queda de Fernando Henrique nas pesquisas, leva agora os empresários a ensaiarem um segundo pacto.
Planeja-se a contenção dos aumentos de preços. O surto de patriotismo tem o objetivo de preservar o investimento eleitoral.
Deseja-se evitar o "risco" Lula. Mais: ambiciona-se apressar o sepultamento político do candidato do PT, evitando o desgaste do segundo turno.
Há um objetivo secundário, mas não menos importante: tentar convencer o governo a desistir da liberalização das importações.
Prometida por Rubens Ricupero e ratificada por Ciro Gomes, a intenção de facilitar a entrada de produtos estrangeiros no país apavora o concorrente nacional.
Se conseguirem ajudar a Fernando Henrique e, simultaneamente, se livrarem da concorrência dos similares estrangeiros, os empresários terão unido o útil ao agradável.
Às voltas com o esforço para liquidar a eleição no primeiro turno, Fernando Henrique reúne em torno de si um leque de apoios que o aproxima de Fernando Collor.
Resta saber se, eleito, conseguirá sossego para governar. A mão que hoje embala Fernando Henrique, amanhã vai querer ser embalada.

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