São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Patrice Chéreau revigora clássico de Dumas

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Patrice Chéreau, 50, o diretor de "A Rainha Margot" é mais conhecido como um homem de teatro. Tornou-se célebre ao encenar, ao lado do maestro Pierre Boulez como regente, uma polêmica montagem de "O Anel dos Nibelungos" de Wagner em Bayreuth entre 1976 e 1980.
No cinema, estreou em 74, mas só em 82 alcançou sucesso com o escândalo provocado por "O Homem Ferido", onde narrava a paixão entre um adolescente e um bandido.
Atingiu o grande público com a tragédia de Margot, adaptação de um romance de Alexandre Dumas que pode ser vista amanhã em São Paulo na Mostra Banco Nacional de Cinema. Desta experiência, Chéreau falou à Folha, com exclusividade.

Folha - Como surgiu a idéia de filmar o romance de Dumas?
Patrice Chéreau - Quando estava procurando um roteiro, me ofereceram "Os Três Mosqueteiros", também de Dumas, e eu recusei. Na França temos uma relação um pouco difícil com Dumas, pois o consideramos um autor juvenil. Mas, uma vez, fui a Moscou e nas bibliotecas seus livros estavam ao lado dos de Tolstói. É preciso ir à Rússia para ver Dumas considerado um grande autor.
Mas, nessa altura, "Os Três Mosqueteiros" já estava sendo filmado. Então eu perguntei à Danièle Thompson (roteirista do filme) qual seria a opção e ela me deu "A Rainha Margot".
Eu li o livro e adorei. Ele me fazia sonhar, a história dessa família, dessa época, do massacre de São Bartolomeu, que é uma passagem que não conhecemos bem.
Depois começamos a pensar no orçamento e nas filmagens, e isso durou três ou quatro anos. Começamos a fazer o filme em 91 e, então, paramos. Recomeçamos e paramos novamente em 92. Então reduzimos o filme até chegarmos no que é hoje.
Folha - O que mais te interessou no livro?
Chéreau - Foi a mistura de histórias individuais muito fortes e uma história coletiva. A mistura é formidavel, e é algo que eu acho raro ver. A França dessa época tinha uma enorme capacidade de violência, semelhante a países como a ex-Iugoslávia ou Ruanda.
Folha - A violência domina boa parte das cenas. Qual é o sentido dela para você?
Chéreau - Muita gente me fala sobre a violência de meus filmes, mas não é algo de que eu tenha consciência. Acho que é algo que existe e que não temos como não falar dela. Aquela era uma época muito violenta, assim como a atual. Não pensei em fazer um filme violento, mas achei que não devia economizar a brutalidade. É preciso contar a história como ocorreu.
Folha - Apesar de se passar no século 16, o filme é atual ao tratar do tema da intolerância. Isso explica parte de seu sucesso?
Chéreau - Acho que sim.
Folha - E a escolha de Goran Bregovic (músico bósnio) e Ofra Haza (cantora israelense) tem algo de proposital?
Chéreau - Não há nenhuma relação. Bregovic é um excelente músico, e eu o escolhi por ser o mais original de Paris. Após, ao rever o filme e o massacre da noite de São Bartolomeu, eu me dei conta de que a música era de alguém da Bósnia. E agora eu acho que é muito interessante ouvir uma música de Bregovic sobre o massacre, mas não foi esse o motivo de minha escolha.

Próximo Texto: Diretor defende cinema como comércio de sonhos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.