São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
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Diretor defende cinema como comércio de sonhos

ANDRÉ LAHOZ

Diretor defende cinema como comércio dos sonhosDe Paris
Abaixo, Chéreau fala de suas opções estéticos e do trabalho com os atores em "A Rainha Margot"

Folha - Há uma grande preocupação com a imagem no filme. Muitas cenas lembram pinturas. O que acha disso?
Chéreau - É certo que o meu grande conhecimento de arte influencia meu trabalho. Fabricar imagens é o que faço há muito tempo. Mas não acho que se possa falar em imagens como quadros, pois é um filme de movimento.
Apenas a cena que se passa em Amsterdã é um pouco especial. É a única que se passa fora da França, e sempre há o problema de fazer com que as pessoas compreendam que as personagens estão em Amsterdã. Nos filmes antigos se utilizava legendas, nas quais se lia por exemplo Amsterdã. No meu caso, eu tentei tornar a cena o mais holandesa possível (ela é falada em holandês), dizendo a palavra Amsterdã apenas duas vezes. Nessa cena, eu tentei que o resultado fosse próximo a um quadro holandês.
Folha - Você filma com a câmera muito próxima dos atores. Isso é uma forma de compensar a distância do olhar que no teatro é insuperável?
Chéreau - Sem dúvida, essa é uma possibilidade que não temos no teatro. Mas eu acho que isso é uma tendência do cinema de hoje, é algo que vem da televisão. No meu caso particular, eu resolvi fazer cinema exatamente para me aproximar dos atores. No teatro, nós estamos muito longe.
Folha - Sua experiência de teatro influencia seu cinema?
Chéreau - O teatro me ajuda a fazer com que eu consiga que os atores façam o que quero.
Folha - Como você conseguiu reunir um elenco tão excepcional em "A Rainha Margot"?
Chéreau - No caso de Isabelle, foi imediato. Desde o começo, eu e Danièle pensamos nela. É a única atriz que poderia fazer o filme. Mesmo antes de o filme ser rodado, se você perguntasse a um taxista, por exemplo, quem deveria ser Margot, ele responderia Isabelle. Ela faz as pessoas sonharem.
Folha - Há portanto um motivo comercial na escolha?
Chéreau - Sim, mas são coisas que estão ligadas. O comércio do filme é o comércio de sonhos.
Folha - Você acha que o prêmio de melhor atriz para Virna Lisi em Cannes foi uma injustiça com Adjani?
Chéreau - Sim, com certeza. O júri deu um tapa em Isabelle Adjani. Foi triste para ela. Eu fiquei muito contente com os dois prêmios obtidos pelo filme, mas fiquei triste por ela.(AL)

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