São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
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Ministro Ricupero

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Sinto o dever de consciência de externar meu pensamento a respeito do episódio que envolveu o país e, em especial, quem até há pouco era ministro da Fazenda. Suas palavras na noite do 1º dia de setembro causaram forte impacto e decepcionaram a alguns.
Reconhece o ministro Rubens Ricupero que, após um dia estafante, em tom mais coloquial, possa ter dito coisas irrefletidas. Suas palavras foram divulgadas. Como interpretá-las?
Antes de tudo, é necessário colocá-las no contexto de uma vida benemérita de múltiplos e valiosos serviços ao Brasil. Quem acompanhou a trajetória de sua dedicação à pátria conhece não só sua honestidade e competência, mas a vontade de ajudar o país a vencer sua crise em bem da população mais sofrida. Ninguém pode disto duvidar.
Jesus Cristo nos ensinou como é difícil julgar o próximo. Nem podemos tirar o cisco do olho do irmão, sem antes retirarmos a trave do nosso próprio olhar.
Uma leitura mais tranquila das declarações publicadas mostra que o ponto central para o ministro Ricupero era superar a inflação, implantando o Plano Real, que, durante cinco meses, procurou promover convictamente e sem medir sacrifícios.
O benefício que daí se seguiu a uma das candidaturas é devido ao que identificou como a "associação inevitável" que se tem feito entre a candidatura de seu antecessor no Ministério da Fazenda e o fato de o Plano Real ter no senador Fernando Henrique o seu executor inicial. Assim, o ministro Ricupero afirmou que para inúmeras pessoas o voto significava apoio ao Plano Real e só consequentemente ao seu idealizador.
Hoje, à medida que os dias passam, é para todos nós uma obrigação fazer o esforço de ler os fatos como são, sem nos deixarmos levar pelo impacto do momento, pela paixão ou –pior ainda– pela retaliação.
O ministro Rubens Ricupero apresentou suas explicações. Para mim, são válidas. Pediu desculpas por tudo que possa ter decepcionado quem quer que seja e pela referência ao IBGE e aos empresários brasileiros, ao generalizar comportamentos individuais que já havia condenado.
Em bem do povo insiste no engajamento na luta que é do Brasil inteiro, pela estabilidade econômica, como condição para o desenvolvimento e a justiça social.
Diante de Deus –que julga as consciências– pergunto: que desejamos mais do que isto?
É justo, portanto, que as campanhas partidárias possam continuar seu caminho, baseando-se cada vez mais nos programas construtivos do que em inoportunas alusões pessoais.
O Brasil que queremos construir passa, antes de tudo, pela profunda estima e compreensão de uns para com os outros.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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