São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 1994
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Primeiro ato de Ciro atrapalha Lula

AMÉRICO MARTINS ; EUMANO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

EUMANO SILVA
Em São Paulo
A primeira medida de Ciro Gomes como ministro da Fazenda enfraqueceu a estratégia que o PT pretendia adotar esta semana em seu programa eleitoral de TV.
O partido planejava criticar duramente a retenção de R$ 5,6 bilhões que o governo federal prometeu destinar para o crédito agrícola. A promessa de que os recursos seriam liberados para financiar a próxima safra foi feita há um mês, pelo então ministro Rubens Ricupero.
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, vinha capitalizando em seus discursos a retenção da verba. Na semana passada, ele visitou a Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), em Brasília, e passou a divulgar que o governo não havia liberado os recursos.
O fato obteve grande repercussão na imprensa e a coordenação da campanha de Lula passou a priorizar o tema –além de continuar insistindo em falar sobre a substituição de Ricupero.
No último sábado, para tentar neutralizar o discurso petista, Ciro Gomes anunciou que as agências do Banco do Brasil começam a liberar esta semana R$ 1 bilhão para a safra.
A medida surpreendeu o PT. Uma equipe da produtora que faz os programas de TV do partido havia sido enviada especialmente para Varginha (no Sul de Minas Gerais), no mesmo sábado, para gravar um pronunciamento de Lula sobre o tema.
O discurso do candidato foi gravado por volta das 19h, em um hotel da cidade onde Lula fazia campanha. A fala tinha duras críticas ao fato de que nenhum real havia sido liberado.
Os petistas só souberam da medida de Ciro Gomes pouco depois da gravação, ao assistirem –ainda no hotel– uma entrevista de Ciro Gomes em um telejornal. Como não havia mais tempo para mudar o pronunciamento –que foi ao ar ontem–, os petistas resolveram adaptar o discurso.
As falas do candidato sobre a retenção foram cortadas. O programa de TV passou a afirmar que a liberação de apenas uma parte dos recursos prometidos não era suficiente para garantir a próxima safra. Um locutor afirmou que a promessa dos R$ 5,6 bilhÕes era uma "mentira" do governo.
Logo depois da gravação, Lula fez um comício em Varginha. Ali também começou a adaptar o discurso. Anunciou a liberação aos petistas e afirmou que o governo iria tentar capitalizar o fato.
Ele vem criticando a equipe econômica pela retenção do dinheiro e eximindo o presidente Itamar Franco de culpa pelo atraso.
No programa de ontem, Lula fez um "apelo" a Itamar. Pediu ao presidente que "tome as rédeas do governo", reduzindo o poder dos técnicos.

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