São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994 |
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Governo veta acordo e metalúrgicos param
MARCELO MOREIRA; ELVIRA LOBATO; CARLOS ALBERTO SARDENBERG
CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os metalúrgicos do ABCD inauguraram ontem a era das greves no Plano Real. 65 mil trabalhadores das grandes montadoras em 22 empresas da região industrial de São Bernardo do Campo cruzaram os braços, reivindicando a reposição das inflação dos meses de julho e agosto –11,87% segundo o IPC-r. A categoria tem 150 mil trabalhadores. Metalúrgicos e montadoras haviam chegado a um acordo que resultaria na concessão de um abono correspondente a 35 horas trabalhadas (os metalúrgicos queriam 40). A lei 8.880 (MP da URV) garante a livre negociação salarial mas o governo manteve-se decidido a intervir para não permitir qualquer reajuste fora da data-base, temendo que o precedente possa ser utilizado por todas as grandes categorias com dissídio a partir deste mês –como petroleiros, bancários, químicos e metalúrgicos de São Paulo. O presidente Itamar Franco disse ontem que "o plano de estabilização terá de ser mantido a qualquer custo", ao criticar a greve dos metalúrgicos do ABCD. "Os trabalhadores precisam entender que há um Plano Real, que tem de ser mantido para interesse do país e não para interesse deles ou do governo". O ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, resumiu a posição do governo: "Se a greve fosse bem-sucedida, desestabilizaria o plano". É posição fechada para o Ministério da Fazenda que não seja dado nenhum sinal de reindexação de salários. Por isso, se opõe à concessão de um abono equivalente a 35 horas semanais. Pelas contas da Fazenda, esse abono daria exatamente os 11,8% que o IPC-r acumulou em julho e agosto. Segundo a Folha apurou, não basta para a Fazenda a garantia da indústria de que não repassará o reajuste para os preços. O governo insiste que não pode sair nada que pareça com reindexação de salários fora da data base. O ideal para o governo é que não seja dado nenhum reajuste, tenha o nome que tiver. Na tarde de ontem, em assembléia geral, os metalúrgicos do ABC decidiram manter a greve e realizar nova avaliação do movimento às 10h da manhã. Até as 20h, uma nova tentativa do governo de por fim à greve estava em andamento. O assessor especial para preços do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, encontrava-se reunido com representantantes das montadoras, das indústrias de autopeças e do sindicato dos metalúrgicos para buscar uma saída para o impasse. Durante as assembléias que se realizaram na manhã de ontem, nas principais empresas de São Bernardo, o presidente do sindicato, Heiguiberto Navarro, o Guiba, afirmou que os metalúrgicos abririam mão da reposição mensal da inflação, como estabelece o acordo da câmara setorial. Em troca, a categoria aceitaria a transformação da inflação acumulada em um abono equivalente a 40 horas de trabalho. O valor não seria incorporado definitivamente ao salário. Isso só aconteceria na data-base da categoria, que seria antecipada de abril para novembro. O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Adelar Scheuer, disse em São Paulo que as montadoras estão prontas para conceder um abono salarial aos metalúrgicos, equivalente a 35 horas trabalhadas. Segundo o empresário, montadoras e metalúrgicos haviam chegado a um acordo na semana passada para a concessão do abono e se o governo não tivesse se oposto "não teria havido greve na indústria automobilística". Na avaliação da Anfavea, o abono é a única solução "possível" para um acordo com os metalúrgicos, que não comprometa a meta de estabilização do governo. LEIA MAIS sobre a greve no caderno Supereleição Texto Anterior: Falta de verba ameaça os salários deste mês Próximo Texto: Abono equivale aos 11,87% Índice |
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