São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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Problemas do Real são naturais, afirma Sachs

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

As dificuldades que o Plano Real enfrenta não impressionam o economista americano Jeffrey Sachs, consultor da maioria dos governos que fizeram planos recentes de estabilização.
"São problemas-padrão", diz Sachs, 39, referindo-se ao aquecimento da demanda, à pressão salarial e à valorização da moeda. "O importante é que a situação fiscal e monetária é sólida."
Mas a batalha contra a inflação não está ganha. Para Sachs, o Real só vingará se o país passar no teste do autocontrole. Para tanto, o governo não deve, por exemplo, atender reivindicações do funcionalismo público, por salários, ou dos exportadores, por incentivos.
O próximo governo é que decidirá se o Real veio para ficar. Segundo Sachs, a estabilzação só é sustentável se houver maior abertura comercial e a investimentos estrangeiros, se os monopóios forem combatidos, se o programa de privatização continuar e se ocorrer a descentralização política.
Jeffrey Sachs está otimista. O Real colocaria o Brasil na rota da globalização, a que o Brasil chegaria com pelo menos uma década de atraso em relação a outros países nas mesmas condições.
Para o economista de Harvard, a globalização não é compatível com a rigidez da política do Estado do bem-estar social, cuja versão brasileira é herança da legislação do tempo de Getúlio Vargas.
Ele argumenta que, em vez de ajudar o trabalhador, essa política aumenta o desemprego porque a reação das empresas à perspectiva de inflexibilidade nas relações trabalhistas é não contratar.
Sachs sustenta a tese com estatísticas. Diz que na Europa o desemprego médio é de 12% da força de trabalho enquanto nos Estados Unidos, onde o amparo ao trabalhador é menor, o índice é de 6%.
Os números sobre educação no Brasil são "chocantes", segundo ele. A escolaridade básica no Brasil atinge uma parcela de pessoas muito inferior à média dos países concorrentes.
Pragmático, afirma que investimentos em educação primária registram taxas de retorno de até 40%. Sem mão-de-obra qualificada, não se acompannha a revolução tecnológica.
Consultor "globetroter", Jeffrey Sachs monitora planos pelo mundo. Ontem à noite, depois de conversar com jornalistas em São Paulo, embarcou para a Polônia.

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