São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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Documento do FMI cobra explicações sobre o plano

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O FMI (Fundo Monetário Internacional) tem uma série de dúvidas com relação ao Plano Real. Em um documento sigiloso enviado à equipe econômica, a instituição cobra explicações sobre pontos críticos do plano e deixa transparecer dúvidas quanto a metas colocadas pelo governo.
Entre as dúvidas do Fundo estão temas como mensalidades escolares, aluguéis, "congelamento" das tarifas de energia elétrica e combustíveis, o projeto de transposição das águas do rio São Francisco, o equilíbrio das finanças públicas, o impacto do aumento do salário mínimo na Previdência, as dificuldades financeiras dos bancos públicos, a sustentabilidade da política de queda da cotação do dólar e as próximas medidas do Plano Real.
O documento pergunta: pode se dizer que preços e contratos estão livres se existem tantas regulamentações, como no caso das mensalidades escolares e aluguéis?
O questionário –obtido pela Folha com exclusividade– foi enviado dia 12 de agosto ao Brasil. Está assinado pelo representante do Brasil junto à diretoria executiva do FMI, Alexandre Kafka.
O acompanhamento do plano pelo FMI era previsto pelo Ministério da Fazenda. O governo espera obter parecer favorável.
As respostas da equipe econômica devem ser apresentadas ao Fundo na reunião anual da instituição e do Banco Mundial, entre os dias 26 de setembro e 7 de outubro, em Madri, na Espanha.
O governo prepara um informe oficial ao FMI e ao Banco Mundial sobre a substituição de Rubens Ricupero por Ciro Gomes no comando da Fazenda. No encontro, Ricupero iria fazer exposições sobre o plano.
A participação do novo ministro está sendo encarada mais como uma apresentação formal à comunidade econômica internacional. Caso Ciro não faça as explanações sobre o plano, deve ser substituído pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan.
O BC tem espera que haja bastante curiosidade sobre o Plano Real por parte da comunidade econômica internacional, devido às suas novidades teóricas.
Perguntas
Conforme o documento, o FMI quer saber qual será o impacto do aumento do salário mínimo na Previdência e no Orçamento dos Estados e municípios este ano e em 1995.
Também busca informações sobre como aumentos salariais no setor público afetam as finanças.
Outra pergunta é se o congelamento de preços do setor público (combustíveis e tarifas de energia elétrica) afeta as empresas do setor.
A entidade também questiona se a política de congelamento é sustentável e qual é a relação entre a elevação dos preços internacionais do petróleo e o preço dos derivados vendidos no Brasil.
O questionário pergunta sobre as privatizações previstas para o final deste ano e se há alguma nova medida do plano prevista.
O FMI procura saber também como foram feitos os cálculos para limitar a emissão de reais.
Outros pontos abordados são: por quanto tempo o governo pretende deixar cair a cotação do dólar –e até quanto o governo está disposto a perder em reservas–, o que o país planeja pra intervir no ingresso de capital externo e quais as medidas previstas para tratar do problema da possível liquidação e solvência de bancos públicos.

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