São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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O presidente pré-Bossa Nova

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO – Mais uma vez o presidente Itamar fixa seu governo no Rio. A presença da Presidência na cidade, e não só do presidente, parece temporariamente dar um rumo às coisas desnorteadas.
Desde a transferência da capital para Brasília, em 1960, o Rio vive uma crise de identidade. Sem reação, a cidade viveu o naufrágio da indústria naval, a fuga das sedes dos bancos e de empresas estrangeiras.
Com o esvaziamento econômico e o consequente aumento da miséria, o Rio vê mais recentemente a decadência do turismo. A "cidade maravilhosa" nega a própria natureza privilegiada.
Essa negativa a uma vocação natural é refletida na campanha política ao governo do Estado. Quase não existem propostas para o desenvolvimento do turismo.
No meio dos discursos intimidatórios, que prometem resolver a falta de segurança, os candidatos falam de quase tudo, menos da única saída que independe de pesados investimentos que não têm fontes de recursos disponíveis.
O presidente é um dos muitos mineiros que foram seduzidos pela antiga sede da República. Juiz de Fora, cidade de Itamar, é um lugar sentimentalmente próximo da avenida Brasil, a via que era até domingo a principal entrada do Rio.
Coube a Itamar o ato inaugural da Linha Vermelha, que agora desafoga a avenida Brasil. O presidente ficou lá rápidos cinco minutos e voltou logo para o hotel Glória.
A nova avenida deve ter denunciado uma desconfortável modernidade ao presidente. No hotel clássico dos anos 20, Itamar vive num refúgio que certamente traz evocações do passado.
Algo reconfortante como ver um Fusca zero quilômetro, tomar um chope no Lamas ou visitar secretamente o outeiro da Glória. O Rio moderno, com todas as suas mazelas e beleza, fica além das linhas de soldados que apontam canhões para as favelas.

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