São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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Para Bacha, acordo só beneficia os "oligopólios" e "monopólios"

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal se opõe à concessão de qualquer reajuste, abono ou antecipação salarial fora da data-base porque entende que isso seria o começo da reindexação da economia. Ou o começo do fim do Plano Real.
É o que informa o assessor especial do Ministério da Fazenda, Edmar Bacha. Segundo ele, o governo se opõe com mais determinação ainda ao reajuste dos metalúrgicos do ABCD.
O acordo entre as montadoras e o sindicato dos metalúrgicos é definido por Bacha como o acerto privado entre um oligopólio (a indústria) e um monopólio (o da representação do sindicato), contra o interesse geral da sociedade.
Um acerto privado porque garante os lucros das empresas e ganhos salariais para uma categoria cujo salário médio é de R$ 900 e que está, portanto, "muito longe do grupo dos excluídos sociais".
E é contra o interesse geral da sociedade, afirma o assessor, porque é uma tentativa de retornar à indexação entre salário e preço, raiz da inflação brasileira.
"Isso prejudicaria os consumidores e todos os cidadãos não organizados em oligopólios ou monopólios, os que não conseguiriam se reindexar", afirma Bacha.
No entender da Fazenda, o reajuste dos metalúrgicos das montadoras logo se estenderia ao setor de autopeças e de eletroeletrônica.
O resultado seria uma elevação geral de custos no setor, de tal modo que, em dois ou três meses, todo o setor automobilístico estaria fazendo o repasse para os preços.
Para Bacha, o jeito ideal de resolver a questão das perdas salariais após plano de estabilização seria garantir reajuste único para todos, por exemplo, seis meses depois da estréia da nova moeda.
Mas, por decisão do Congresso, a reposição no Real se dará ao longo de um ano, à medida que foram vencendo as datas-bases. "Não é o melhor, mas é a lei", observa.
Mas a lei não proíbe reajustes salariais nem de preços. Apenas determina que, na data-base, haverá reposição salarial obrigatória. Fora isso, é a livre negociação.
Mas se não pode, legalmente, impedir aumentos, o governo tem armas. E a mais eficiente é a redução de impostos de importação. "É a única forma de contestar o poder dos oligopólios e dos monopólios no controle do mercado.".
Para ele, a redução dos impostos nunca provoca uma inundação de carros importados nem leva ao fechamento de fábricas locais, como afirmam empresas e sindicatos.
Bacha, que ontem considerava decidida a redução da alíquota de importação de carros de 35% para 20%, acrescentava, ou ameaçava: "Esses 20% não são o piso".
LEIA MAIS sobre greve nas páginas 1-5 e 1-6 e sobre importação no caderno Dinheiro

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