São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Greve dá prejuízos para Lula e FHC

ELEONORA DE LUCENA
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

A greve desencadeada por 70 mil metalúrgicos do ABCD paulista é o ponto maior de discussão da campanha eleitoral nesta semana. Os dois principais candidatos ao Planalto estudam seus movimentos frente à paralisação, tentando evitar prejuízos nas vésperas das eleições.
É fato que Luiz Inácio Lula da Silva pouco tem a perder. Tudo indica que a corrida à Presidência deve se decidir ainda no primeiro turno em favor de Fernando Henrique Cardoso. O candidato petista precisa, a qualquer custo, criar um fato novo que possa ainda transportá-lo para o segundo turno.
A greve poderia ser esse fato. Mas está restrita aos operários de montadoras e empresas de autopeças da região de maior influência política do PT. Parece ser muito pouco para mudar o quadro atual.
As lideranças petistas da greve agem com cuidado. Temem que o movimento possa amplificar a imagem de radical associada ao partido e ao seu candidato. Ao mesmo tempo, a paralisação é a única arma que Lula tem na mão para tentar golpear a candidatura de FHC. A decisão de aprofundar ou não a greve é difícil.
Já FHC bombardeia o movimento. Ele e o ministro de plantão afirmam que o reajuste salarial fora da data-base prejudica o plano, pois reacende a indexação na economia, trazendo de volta a corrida preços-salários.
Mas empresas e trabalhadores declaram que tinham chegado a um acordo de reajuste sem repasse para preços. Um acerto assim, teoricamente, não colocaria lenha na fogueira da inflação. Só que aí o governo resolveu intervir e vetar o aumento salarial.
A intervenção governamental no processo grevista é a novidade nesses tempos de liberalismo. Desde a era Collor, que lançou no Brasil a moda da livre negociação entre capital e trabalho, não se via nada igual. Lembra os tempos pré-Sarney, quando o governo impunha todas as regras nessa área.
Pois o governo resolveu impedir o acordo entre montadoras e sindicato. Por quê? Para impedir qualquer arranhão no plano e na candidatura oficial. A manobra foi arriscada. E a firme posição contra a greve pode trazer prejuízos políticos também para FHC.
Na prática, o governo não tem instrumentos legais seguros para vetar o acordo. Trabalha com ameaça de redução ainda maior das alíquotas de importação de carros (ontem já anunciou uma primeira diminuição nas taxas). As montadoras aguardam e, enquanto isso, a greve se amplia.
O comportamento oficial intervencionista se choca com o discurso defendido por FHC e pela equipe econômica. O liberalismo econômico estabelece a livre negociação salarial como uma das peças principais das relações sociais. Mas agora, numa demonstração contundente de pragmatismo, o discurso é esquecido. Tudo em nome do plano e da candidatura.
Por tudo isso, a greve em curso está envolta em muita política. Ela pode ajudar ou prejudicar Lula e FHC. Depende dos próximos movimentos no tabuleiro. Se o movimento for ampliado pode ser uma arma (arriscada) da campanha de Lula. Além dos metalúrgicos, bancários e petroleiros também estão em campanha salarial (esses têm data-base em setembro) e a CUT articula um movimento com a Força Sindical.

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