São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Xavantes lançam clipe com rito sagrado

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O CD "Etenhiritipá" inaugura um outro produto inédito: o videoclipe silvícola.
A faixa escolhida pela comunidade de Pimentel Barbosa para a gravação do clipe intitula-se "Wai'á" e faz parte das cerimônias sagradas de iniciação dos adolescentes, que acontece de dez em dez anos.
O clipe foi realizado por José Belizario e Silvestre Canpe há duas semanas, quando a equipe dirigida pela produtora Angela Pappiani foi à aldeia entregar a fita master do disco. Os "videomakers" utilizaram filmadora de 16 mm para gravar as cenas de danças rituais que integram o clipe.
Os índios ouviram o disco e aprovaram o trabalho. Três deles haviam participado da mixagem, em março de 1993, nos estúdios da Quilombo, em Belo Horizonte.
"A fita virou hit na aldeia", conta Angela. "Todos estão se divertindo muito ouvindo as próprias vozes e tocam as músicas 24 horas por dia."
A faixa de trabalho (como é chamada pelas gravadoras a música que será utilizada para veiculação em rádio e TV) foi eleita numa "wara", a reunião parlamentar da comunidade.
Uma "wara" também decidiu o repertório do CD em julho de 1992, numa noite de lua cheia. Os xavantes optaram por cantos de iniciação que não envolvessem cerimônias secretas ou instrumentos tabus. Algumas flautas típicas dos xavantes não constam do disco.
O CD foi realizado com um gravador de oito canais e uma mesa de som de 16 canais. Os equipamentos eram ligados à bateria do carro. As gravações duraram uma semana e envolveram as 600 pessoas da aldeia. Os registros aconteceram à noite, turno em que os ventos sopram menos.
Para a produtora, o CD tem uma importância estratégica num momento em que existe animosidade de setores da intelligentsia brasileira em relação à cultura indígena, e dos xavantes em particular. "Afinal, os xavantes ganharam uma imagem negativa por causa do cacique Mário Juruna", diz Angela. "O CD é a afirmação musical de uma comunidade que faz questão de viver da forma tradicional, ainda que tenha contato intenso com a cultura branca."
O Núcleo de Cultura Indígena pretende utilizar o produto na divulgação do CD. "Estamos batalhando a veiculação do clipe em emissoras de TV", diz Angela. (Luís Antônio Giron)

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