São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994 |
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Mestre Ernst Lubitsch estréia nas locadoras com comédia menor
SÉRGIO AUGUSTO
Não obstante, é uma exibição notável de bom humor, sagacidade, sofisticação e eficiência. Com o trivial variado do mestre: a guerra dos sexos travada a maior parte do tempo atrás das portas mais maliciosas da história do cinema. A primeira delas, por sinal, é a do banheiro de senhoras. Uma grã-fina de Nova York (Merle Oberon) sofre de inexplicáveis acessos de soluço. Um psiquiatra (Alan Mowbray) diagnostica: é psicossomático. Causa? Desencanto conjugal. O marido dela (Melvyn Douglas) só pensa nos negócios. Subitamente, entra em cena outro homem (Burgess Meredith), pianista doidivanas, neurótico e misantropo. A grã-fina se apaixona por ele, o marido finge que entende o "coup de foudre" e até lhe dá corda. Mas, por trás, arma todo um bem-sucedido esquema para trazer a mulher de volta ao lar. Devidamente curada dos soluços. Barafunda típica de Victorien Sardou, comediógrafo de boulevard popularíssimo no final do século passado em sua terra natal (França) e no resto do mundo. Em sua homenagem, o crítico de teatro nova-iorquino George Jean Nathan inventou um verbo, "to sardou", para designar todas aquelas tramóias maquiavélicas amiúde urdidas por Otelos patuscos. Lubitsch usou como inspiração para o filme uma peça fruto de uma parceria de Sardou com Emile de Najac, que tinha como cenário a Paris de 1880. Antes, porém, de readaptá-la à Nova York de 1940 e acrescentar-lhe novidades modernas como a psicanálise e a pintura surrealista, Lubitsch já a filmara, tendo ao fundo a Paris dos anos 20. Esta versão, sim, é que deveria estar chegando às locadoras. Produzida na Warner em 1925, intitulava-se "Beija-me Outra Vez" (Kiss Me Again) e dividia entre Marie Prevost, Monte Blue e Maurice Ferriere as atribuições de Oberon, Douglas e Meredith. Pouco conhecida e, por isso, raramente realçada pelos historiadores, arrebatou, na época, inúmeros e até bem qualificados espectadores. Edmund Wilson e Herman J. Weinberg, por exemplo. Outro: Robert Flaherty, que dizia apreciá-la tanto quanto "A Terra", de Dovjenko, seu filme favorito. "Um filme champanhe num mundo encharcado de cerveja". Nestes termos se manifestou o crítico da revista "The New Yorker", quando da estréia de "Beija-me Outra Vez". Sobre a refilmagem, ninguém fez frases de efeito. Mas num mundo ainda mais encharcado de cerveja, como o atual, "Que Sabe Você do Amor?" pode ser perfeitamente sorvido como um Poilly-Fuisse de boa safra. Vídeo: Que Sabe Você do Amor? Produção: EUA, 1941, PB Direção: Ernst Lubitsch Elenco: Merle Oberon, Melvyn Douglas Distribuição: International Classics (tel. 011/288-5588) Texto Anterior: Americanos inventam thriller fisiológico Próximo Texto: Fred e Rita dançam Cole Porter em "Ao Compasso do Amor" Índice |
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