São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Clinton vai à TV defender invasão

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, 48, fala hoje ao país em rede nacional de TV. Vai tentar convencê-lo de que é certo invadir o Haiti para restaurar no poder o presidente no exílio Jean-Bertrand Aristide.
É possível que Clinton dê aos militares haitianos liderados pelo general Raoul Cedras um prazo para devolverem o governo a Aristide, deposto por eles em setembro de 1991.
O presidente também vai argumentar que a credibilidade internacional de seu país está em jogo, que há 3.500 cidadãos americanos no Haiti para serem defendidos e que sem a invasão o fluxo de refugiados haitianos continuará provocando problemas nas cidades dos Estados Unidos.
As mais recentes pesquisas de opinião pública mostram que há entre 66% e 73% dos norte-americanos contrários à idéia da invasão do Haiti.
No Congresso americano, a maioria dos parlamentares também é contra. Mas o líder do governo no Senado, George Mitchell, conseguiu ontem, por meio de uma manobra regimental, adiar qualquer votação sobre o assunto para a semana que vem.
Clinton não vai pedir autorização ao Congresso para invadir o Haiti. A Constituição dá ao Parlamento o poder de declarar guerra. Mas o presidente tem direito de enviar tropas ao exterior em situações de emergência.
Eessa brecha constitucional permitiu as recentes invasões de Granada e Panamá, entre outras, sem consulta ao Congresso.
O porta-aviões USS Eisenhower, com 2.000 fuzileiros e 50 helicópteros a bordo, deixou ontem a base naval de Norfolk, Virgínia, com o aparente destino do Haiti. O Pentágono afirma que ele está em "manobras".
O secretário da Defesa, William Perry, esteve em Norfolk, onde se reuniu com os prováveis comandantes da invasão a bordo do navio USS Mount Whitney, que vai funcionar como quartel-general para a invasão do Haiti.
Perry afirmou que "as tropas norte-americanas estão quase todas em ordem" para a invasão do Haiti. Acredita-se que cerca de 20 mil soldados entrarão no país.
O total das forças armadas haitianas não chega a 7.500 homens, incluída a polícia. A Marinha do Haiti dispõe de quatro barcos de patrulha.
A Força Aérea tem dois aviões de treinamento. O Exército possui seis carros de combate. A maioria desses veículos tem problemas mecânicos graves.
Segundo cálculos preliminares de parlamentares dos dois partidos, a invasão não vai custar menos do que US$ 625 milhões.

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