São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Greve e eleições

Uma indagação que vem sendo suscitada pela greve dos metalúrgicos do ABCD refere-se ao seu eventual impacto sobre o cenário eleitoral. Dada a importância da questão, conjecturas a respeito assumem claro interesse e oportunidade.
É imprescindível desde logo uma avaliação quanto ao efeito de uma greve sobre o cotidiano da população. Se à paralisação dos metalúrgicos se seguir alguma outra em setores sensíveis para o dia-a-dia da população, como o dos bancários, por exemplo, parece claro que a repercussão seria negativa para qualquer partido vinculado ao movimento. Nesse sentido, tenderia a ser o PT o maior prejudicado, já que acaba sendo justa ou injustamente ligado de modo automático a greves.
Já no caso de um fortalecimento e expansão da greve para outros setores que, como os próprios metalúrgicos, não interferem de forma direta com os afazeres habituais dos cidadãos, é possível imaginar um outro tipo de cenário.
Pode-se indagar se uma ampla paralisação em áreas que não causem transtornos diretos não poderia ter o efeito de levantar, junto a parcelas da população, dúvidas quanto ao Plano Real e à candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
Sempre no campo das conjecturas, não seria descabido imaginar que uma greve forte, visível, poderia introduzir um componente de radicalização na corrida eleitoral. O enfrentamento entre patrões e empregados que caracteriza uma paralisação poderia abrir margem para a uma tentativa de associar o concorrente tucano aos empresários.
Mesmo para cidadãos que notam a estabilidade dos preços nas suas idas ao mercado, é possível que uma greve, e o clima de radicalismo que a rodeia, instilassem a dúvida sobre o lado em que realmente estão o governo e seu candidato, e sobre quem são os maiores beneficiários do plano. Ainda mais com o discurso oficial contra o aumento de salários –independentemente da racionalidade econômica que possa ter. Esse desdobramento poderia, nesse sentido, constituir o fato novo que o PT busca para alcançar um segundo turno.
É evidente que tais raciocínios são suposições sobre desdobramentos possíveis da paralisação em andamento. Por enquanto, deve-se lembrar, o movimento está restrito a uma categoria. Ainda assim, é evidente que uma greve nesse momento pode facilmente assumir caráter político e eleitoral.

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