São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Conheça a origem do conflito norte-irlandês

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte confunde muita gente que não está familiarizada com o assunto.
A Irlanda, católica, com capital em Dublin, é uma república independente. Já a Irlanda do Norte, com capital em Belfast e 56% da população protestante, é parte do Reino Unido junto com Inglaterra, Escócia e País de Gales.
As duas Irlandas, porém, têm fortes laços culturais e políticos. Os nacionalistas norte-irlandeses (como os terroristas do Exército Republicano Irlandês ou IRA) querem a união das duas Irlandas.
A grande colonização britânica-protestante na Irlanda começou no século 17, principalmente em nove distritos no nordeste que formavam a província do Ulster.
No século 19 surgiu um forte movimento a favor da independência da Irlanda. O movimento explodiu em violência em 1916, em Dublin.
Em 1920 foram criados dois Parlamentos na Irlanda. Um em Dublin, para 26 distritos predominatemente católicos da Irlanda, e um em Belfast, para os outros seis distritos, de maioria protestante.
Em 1922 os 26 distritos do sul se tornaram Estados Livres e formam hoje a República da Irlanda.
Com o apoio da maioria protestante, o Partido Unionista do Ulster manteve controle do Parlamento em Belfast, com a minoria católica alienada do poder e discriminada em termos de habitação, empregos e tudo que dependesse do governo.
Esta situação provocou um aumento contínuo da tensão, que culminou no pacífico movimento de direitos civis no final dos anos 60.
Grupos protestantes reagiram com violência ao movimento pacífico e uma parte do IRA, o Provisional IRA ou PIRA, iniciou uma campanha de contra-ataques e atentados terroristas para forçar a união das duas Irlandas.
Em 1969, o governo norte-irlandês pediu reforço ao Exército britânico, que passou a ser responsável pela segurança.
Em março de 1972, com o aumento da violência e distúrbios civis, o governo britânico assumiu diretamente a administração da Irlanda do Norte, dissolvendo o Parlamento em Belfast.
O IRA incrementou suas ações terroristas desde então, bem como os grupos paramilitares protestantes. De 1969 até hoje, cerca de 3.200 pessoas morreram por causa da violência na Irlanda do Norte.
Em 31 de agosto, o IRA anunciou cessar-fogo total e seu braço político, o partido Sinn Fein, espera iniciar conversações com os governos britânico e irlandês sobre o futuro da Irlanda do Norte.
Com a perspectiva de paz, as duas Irlandas esperam incrementar o turismo na ilha. Os chefes do setor de turismo das duas Irlandas se encontraram semana passada e a Irlanda do Norte calcula que a paz pode criar 10 mil empregos só no setor de turismo.
"Sabemos por pesquisas que a imagem de violência é a pior coisa que se pode ter", diz Ian Henderson, chefe da secretaria de Turismo da Irlanda do Norte, apesar da região ter taxa de criminalidade menor que Itália, França ou EUA.

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