São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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IRA assusta pela violência, diz Anistia

CARLOS ALBERTO IDOETA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há dias o Exército Republicano Irlandês (IRA) surpreendeu com o anúncio de um cessar-fogo que pode enfim trazer a trégua depois de 25 anos de conflito. Os quase 3.400 mortos, civis quase sempre, e os incontáveis feridos cobram das três partes envolvidas uma réplica digna do momento da paz possível.
Em disputa a Irlanda do Norte, ou Ulster, província nordestina de 14.000 km2 que é parte do Reino Unido. A maioria de sua população de 1,5 milhão de habitantes é protestante. Os outros quatro quintos da ilha compõem a República da Irlanda ou Eire, independente e católica.
Os republicanos querem a unificação irlandesa e a saída das tropas britânicas. Os legalistas do norte defendem o statu quo e têm na UDA (Ulster Defence Association) seu grupo mais forte.
O IRA matou, torturou, espancou e ameaçou. Seus atentados ganharam fama pela ousadia e pelo pouco caso com civis e menores de idade. Já mandou para os ares até um hospital em Belfast. Em 1984, por pouco não explodiram a então primeira-ministra Margaret Thatcher junto com um hotel em Brighton. Atiravam nos joelhos dos inimigos, aleijados para sempre. Espancavam com tacos de beisebol e barras de ferro, adolescentes inclusive. Em solo britânico atacaram estações de trem, shopping centers e até a City, centro financeiro londrino.
Os legalistas mataram católicos apenas por serem católicos. Não pouparam residências, pubs, clubes e membros do Sinn Féin (braço político do IRA) e seus parentes. Em 1993, cometeram mais assassinatos políticos que o IRA.
O último relatório da Anistia Internacional, de fevereiro de 1994, cuida dessas e das violações cometidas também pela terceira parte, as forças de segurança governamentais.
Denuncia o conluio delas com os legalistas, a proteção contra a violência seletivamente estendida a alguns apenas, a manipulação de inquéritos policiais e a impunidade persistente.
A Anistia então recomendou, entre outras, a proteção para todos os ameaçados, monitoramento transparente das forças de segurança, administração pronta e imparcial de justiça e a conformidade da legislação britânica a padrões internacionais de direitos humanos.
O apelo agora se renova: não matem militares nem civis, não torturem, não façam reféns. Promovam a vida e a justiça. Negociem até a paz.

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