São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
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Câmbio europeu confunde americanos

ALAN RIDING
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Você começa a fazer planos para uma viagem à Europa durante o inverno, quando o dólar vale "x", mas quando chega a Paris, Roma ou Milão no verão descobre que esse valor mudou.
É verdade que às vezes mudou para melhor. No verão passado, por exemplo, muitos turistas americanos tiveram uma surpresa agradável. Mas este ano a surpresa não foi boa; voltaram os tempos bicudos para as velhas "verdinhas".
O estranho é que mais ou menos 2 milhões de americanos vão à Europa todos os anos, não importa o que esteja acontecendo ao dólar.
Os ricos não se preocupam com a taxa de câmbio. Os que viajam com orçamentos apertados são obrigados a procurar pechinchas. No fim das contas, a diferença entre os viajantes de bolsos bem forrados e os outros é muito maior do que qualquer oscilação do dólar.
Mesmo assim, qual é o turista que não checa a taxa do dólar quando passa em frente a uma casa de câmbio? Qual o viajante que não se pergunta se a taxa de amanhã não será melhor?
É um mundo fascinante, mas também misterioso. Se o Federal Reserve em Washington (o Banco Central dos EUA) não sabe por que o dólar sobe e desce, quem somos nós para sabê-lo?
Perda relativa
Só uma coisa é certa: que o dólar vem perdendo valor de alguns meses para cá. Mas –e este "mas" é importante– não perdeu todo o valor que ganhou no final de 1992, quando a libra esterlina, a lira italiana, a peseta espanhola e várias moedas escandinavas foram obrigadas a se desvalorizar.
Tanto assim que o dólar ainda vale entre 20% e 30% mais, em boa parte da Europa, do que valia dois anos atrás.
Bastam um ou dois exemplos. Em 1º de julho de 1992, o dólar valia 1.130 liras e 95 pesetas, enquanto a libra valia US$ 1,91; em 1º de janeiro de 1994, o valor do dólar havia subido para 1.700 liras e 143 pesetas, enquanto a libra caíra para US$ 1,49.
Ou seja: em termos relativos, a recente queda do dólar não foi tão grande assim. No dia 8 de agosto, o dólar ainda valia 1.580 liras e 130 pesetas. A libra, US$ 1,54.
Competitividade
Existe outro ponto positivo. A Europa Ocidental está começando a sair de uma recessão prolongada e muitos hotéis e restaurantes, tendo sentido o aperto, aprenderam a ser competitivos.
Em Madri, por exemplo, alguns hotéis cinco estrelas abriram mão de uma de suas estrelas para reduzirem seus preços em até 40%. Em Paris e Roma, mais restaurantes estão expondo seus menus a preço fixo, na esperança de atrair transeuntes.
Apesar das pechinchas, o dólar hoje vale bem mais no sul da Europa e na Escandinávia do que valia em agosto de 1992.
Mas ainda não vale grande coisa na Holanda, Suíça, Bélgica, Luxemburgo e França, cujas moedas estão atreladas frouxamente ao marco alemão. E é claro que é contra o poderoso marco –e também contra o distante iene japonês– que o dólar vem se dando mal ultimamente.
Em outras palavras, quando a lira italiana, a libra britânica e outras moedas foram desvalorizadas, no final de 1992, elas o foram, na realidade, contra o marco alemão.
E agora que estão voltando a subir, elas ainda se medem principalmente contra o marco alemão. Assim, o importante para o dólar é seu valor em relação ao marco.
Em 1º de julho de 1992 o dólar valia 1,49 marcos; em 1º de janeiro de 1994, valia 1,74 marcos e em 8 de agosto passado estava 1,54 marcos.
Unificação
Mas no futuro tudo isso deverá tornar-se mais simples. Os países membros da União Européia –atualmente 12, mas que no dia 1º de janeiro de 1995 serão 16, com o previsto ingresso de Áustria, Finlândia, Noruega e Suécia– se comprometeram a criar uma moeda única até 1999.
É possível que nem todos consigam cumprir o prazo previsto, mas cedo ou tarde isso deve ser feito. E quando isso acontecer, o dólar terá uma taxa única em toda a Europa Ocidental.
Isso não vai impedir que seu valor flutue, mas pelo menos os viajantes americanos não serão obrigados a pagar comissões exorbitantes a casas de câmbio cada vez que atravessam uma fronteira.
Tradução de Clara Allain.

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