São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleitores estão mais distantes dos partidos

ANTONIO MANUEL TEIXEIRA MENDES
DIRETOR-EXECUTIVO DO DATAFOLHA

É de se esperar que durante as campanhas eleitorais ocorram alinhamentos com maior ou menor intensidade entre os eleitores e os partidos políticos. É quando os partidos dispõem do meio ambiente favorável à conquista não apenas do voto para seus candidatos, mas também da simpatia para suas causas programáticas e ideológicas. É o momento do convencimento. Pois bem, nesta eleição o que se verifica é o oposto. À medida que a campanha avança, é menor o número de eleitores que se identificam, minimamente, com algum dos partidos políticos. Em maio, quando do início oficial da disputa eleitoral, 53% dos eleitores não indicavam simpatia por qualquer partido. Agora, pela última pesquisa Datafolha, realizada nos dias 8 e 9 de setembro, o percentual de eleitores que não manifesta preferência partidária alcança 61%.
Na campanha presidencial de 1989, para ficarmos com uma comparação adequada, a taxa de eleitores sem preferência partidária girou no patamar de 57% no início da campanha, ficando em 52% às vésperas do primeiro turno.
Mas, apesar de minoritário, ainda assim é surpreendente o índice de alinhamento de eleitores em meio à instabilidade que caracteriza o quadro partidário no Brasil.
O PMDB, o mais antigo dos partidos –se o considerarmos como herdeiro do MDB– consegue ter ainda a maior base partidária, com 13% das preferências. Com o seu prestígio originado principalmente entre as camadas pobres metropolitanas, o PMDB continua sendo o "partido dos pobres", só que agora são os pobres dos pequenos municípios do interior do país que desenham o seu eleitorado mais típico.
O PT aparece como o segundo partido na preferência, com 11%. Tinha 15% no início da campanha. Normalmente identificado como o mais ideológico dos partidos, o PT não conseguiu alargar suas bases entre o eleitorado alvo de seu discurso, os trabalhadores mais pobres e os marginalizados. O perfil clássico do seu eleitorado inclui traços como maior escolaridade e alta renda, além de concentração entre os mais jovens e moradores das regiões metropolitanas.
O PSDB é o único partido que apresenta curva ascendente do início da campanha até aqui. Embora dobre seu índice, passando de 3% a 6% das preferências, pode parecer pouco, se comparado à ascensão de FHC no mesmo período.
O perfil do peessedebista típico se assemelha ao petista. São principalmente os eleitores de maior renda e alta escolaridade os que mais se inclinam pelo partido. A diferença maior é que a distribuição geográfica do eleitorado do PSDB é mais espraiada, enquanto os petistas se concentram mais nos grandes centros.
Coligado ao PSDB, sob o nome "União Trabalho e Progresso", o PFL apresenta um eleitorado totalmente distinto. Os pefelistas concentram-se nos pequenos municípios nordestinos, têm baixa renda e escolaridade primária.
As razões para o decréscimo da identificação partidária passam pela baixa estima do eleitor para com os políticos, pelo sentimento generalizado de que os partidos representam principalmente, senão exclusivamente, os interesses dos próprios políticos e outras razões ancoradas no desprestígio do poder público, conforme já atestado em diferentes pesquisas de opinião.
Porém, não se deve excluir o fato de que, por conveniência ou falta de sensibilidade das equipes de marketing, as alianças eleitorais acabam por encobrir os partidos e dissociar os candidatos majoritários de seus partidos de origem.

Texto Anterior: Candidatos consolidam votos
Próximo Texto: Folha e Cultura definem debate hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.