São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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'Vou onde me alimentam, como cachorro'

DA REPORTAGEM LOCAL

Peter Coyote comenta também nesta entrevista sua passagem pelo Brasil e o filme "A Grande Arte", de Walter Salles Jr., de que acha que gostou "'mais do que qualquer outra pessoa".

Folha - Por que você faz sempre filmes europeus –e já fez até um brasileiro? Você acha que são melhores que os norte-mericanos?
Coyote - Olha, eu me considero um cachorro. Vou onde cuidam de mim e me alimentam. Vou onde me querem. Parece que gostam mais de mim na Europa e no Brasil. Então eu vou. Não acho que os filmes europeus sejam necessariamente melhores. Qualquer país do mundo faz filmes ruins. Para mim, às vezes, filmes estrangeiros são um pouco menos previsíveis e um pouco mais interessantes.
Folha - Você acha que não há lugar para você nos filmes norte-americanos?
Coyote - Bom, parece que não. Eu acabei de fazer meu primeiro filme norte-americano depois de sete anos.
Folha - Que filme é?
Coyote - Chama-se "Moonlight and Valentino". Fiz um papel bem pequeno, foi um favor de Whoopi Goldberg, que queria que eu fosse seu marido. Acho que foi a única razão por que fui empregado.
Folha - Por quê?
Coyote - Não sei por quê. Não sei como os outros me vêem. Talvez você possa me dizer.
Folha - Em que você está trabalhando agora?
Coyote - Acabo de escrever um livro. É uma espécie de memórias de minha "vida loca" nos anos 60. Escrevi também dois roteiros. Um deles vou dirigir. Whoopi Goldberg vai participar. Ela e Michael Madsen. Deve ser feito em junho e julho.
Folha - E o livro, quando será publicado?
Coyote - Ainda não sei quando, porque estou trabalhando com o editor agora. Hoje em dia, seu agente trabalha com você como um editor, em geral antes que você submeta o livro a alguém para publicá-lo. Mas como publiquei um capítulo do meu livro e ganhei um prêmio literário de não-ficção por ele, muitas editoras estão interessadas nele agora. Então não preciso me preocupar para encontrar uma editora.
Folha - Você teve uma vida realmente "loca" nos anos 60?
Coyote - Completamente. Por isso parei de interpretar por 12 anos.
Folha - O que você acha de Nicholas, seu personagem de "Kika"? Ele é o mau escritor por definição. Você que é escritor também não se incomoda de fazer esse papel?
Coyote - Acho Nicholas bonitão, charmoso, sexy, a melhor coisa do filme. Em "Lua de Fel" também fazia o papel de um mau escritor. Isso me deixa nervoso. Por que todo mundo está me contratando para ser um mau escritor?
Folha - Por quê?
Coyote - Sei lá. Acho que eles acreditam que eu convenço como escritor. Pareço esperto o suficiente para escrever. Bom, por que eles me contratam para matar mulheres? Eu adoro as mulheres, não faço isso. Mas sou um bom ator, então...
Folha - O que você acha de "A Grande Arte", o filme brasileiro de que participou?
Coyote - Olha, acho que eu gostei do filme mais do que qualquer outra pessoa. É um filme muito interessante. Não acho que eu e o diretor, Walter Salles Jr., tenhamos sido completamente bem-sucedidos, mas chegamos perto disso. É um grande filme.
Folha - O que você achou do Brasil quando esteve aqui?
Coyote - Eu adorei. Fiquei quase seis meses. Fui ao Rio, ao Pantanal, Corumbá, Campo Grande, São Paulo. Não queria voltar para casa de jeito nenhum.

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