São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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Pedido de abono maior leva negociação a impasse

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Metalúrgicos e montadoras de automóveis não conseguiram ontem chegar a um acordo para suspensão da greve, que entra hoje no seu sexto dia.
O impasse ocorreu porque os sindicatos –que antes da greve queriam abono salarial equivalente a 40 horas trabalhadas– aumentaram as exigências para voltarem ao trabalho. Agora, reivindicam abono correspondente a 72 horas.
A reunião entre as montadoras e os metalúrgicos foi realizada no hotel Caesar Park, no centro de São Paulo, e durou cinco horas.
No início, o clima era de brincadeira entre os representantes das montadoras e os metalúrgicos. Com o correr das horas, houve impasse entre as partes e o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Adelar Scheuer, abandonou a reunião. A negociação será retomada hoje.
As montadoras, que no início do encontro queriam negociação separada por empresa, concordaram em pagar abono igual, baseado em um mesmo número de horas, que deverá ser acertado hoje.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, disse que a greve precisa acabar no final de semana, sob risco de desgaste dos sindicatos.
"O governo saiu fora e deixou campo livre para negociação. Agora a responsabilidade está com a gente", afirmou.
Os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e do ABC pediram abono equivalente à reposição das perdas salariais de agosto e setembro e da estimada para outubro.
Para chegar à proposta das 72 horas, eles calcularam uma perda salarial de 13 horas de trabalho em agosto (medida pelo IPC-r de 6,08% de julho), de 26 horas em setembro (11,87% de IPC-r acumulado em julho e agosto) e de 32 horas em outubro, estimando uma inflação de 2,5% em setembro e IPC-R acumulado de 14%.
As montadoras rejeitaram a proposta dos metalúrgicos e começaram com a oferta de abono equivalente a 40 horas. Segundo os sindicalistas, as montadoras chegaram a aumentar a proposta para 53 horas no curso da discussão.
Os sindicatos insistiram nas 72 horas, alegando que os grevistas já haviam perdido 44 horas de trabalho com a greve, as quais eles teriam que repor com trabalho extra aos sábados.
Configurado o impasse, os metalúrgicos chamaram o presidente do sindicato do ABC, Heiguiberto Navarro, que aguardava o resultado em São Bernardo.
Heiguiberto demorou mais de uma hora para chegar hotel, irritando os representantes das montadoras. Ele chegou ao hotel às 15h45 e, às 16h, Luiz Adelar Scheuer, abandonou o encontro.
Nervoso, Scheuer disse que seguia para uma audiência na Justiça do Trabalho porque o impasse era total e não se havia chegado a acordo sobre nenhum ponto.
O presidente da Anfavea deixou o hotel acompanhado do vice-presidente da entidade, Mauro Marcondes Machado.
Enquanto os dois se afastavam, Heiguiberto Navarro, admitia que as duas partes haviam "endurecido" e chegado ao impasse.
Quando o rompimento parecia consumado, o vice-presidente da Anfavea, Mauro Marcondes, voltou ao hotel e se fechou novamente com os líderes sindicais. Meia hora depois, anunciaram que a negociação evoluíra e seria retomada hoje.

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