São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bruno Tolentino escreve poema em resposta a Augusto de Campos

BRUNO TOLENTINO
DA REDAÇÃO

Erramos: 18/09/94

Os versos-resposta do poeta Bruno Tolentino a Augusto de Campos contém erros de digitação. Deve-se ler "Por quem, ó plebeu, me tomas?" em vez de "Por que, ó plebeu, me tomas"; "mas produzir entre comas" em vez de "mas produzir entre comos" e "mas quanto a ter o desplante" em vez de "mas quando a ter o desplante".
A IRADA FLOR DOS CAMPOS
OU CE QU'ON DIT AU POÈTE
À PROPOS DE FLEURS
"Não foi!" – "Foi!" – "Não foi!"(Manuel Bandeira, 1918)

1. O Clube da Vitória Régia 1994
Nossa! Como anda amparada a mais murcha flor dos campos! Enxames de pirilampos. espectros vindos do nada, do PT, da violada, do arrebol... Com tantos grampos a frágil trança dos campos nunca há de ser destrançada! Coitada da liberdade, filha ilustre do desdém que toda cultura tem pelo embuste e a vaidade... Senhores, fiz muito bem, só faltei à caridade!

2. O rabo do nimbú
Quanto à excelsa flor mais /moça, sapo-boi de poça em poça, geme, xinga, vira à esquerda e em seu sotaque da roça faz lembrar as do Lacerda sua gritaria insossa... Gentinha hipócrita e lerda a desse PT de...louça! Contestar no mesmo tom, segundo disse o Drummond é pregar rabo em nimbú; mas, ó Piva, onde andas tu que ainda não lhe pregaste um bom pontapé na haste?

3. A quarentena...
Diz a irada flor: "O fel que me destilas na orelha, ó zangão metido a abelha, não vale meu ouropel, meu arrebol cor de mel! Invejas-me a lira velha! Terei talvez uma telha a menos, mas meu corcel relincha há quarenta anos! Por concretos oceanos, por vagalhães de papel, meu Pégaso de cordel levou-me a entrar pelos canos mais ilustres de Babel!"

4. ...do homem que nunca soube /javanêsFlor de cinza do arrebol, não sabes nem portunglês, quanto menos javanês descansa em paz! O teu rol de cupinchas, teu inglês de suburbano de escol, teu verso todo em formol, não te salvam... Desta vez vá lá, mas se ainda te pego com tua riminha manca, com tua bengala branca de cego guiando cego, vais ver! Nem Florbela Espanca como eu te espanco, meu nêgo!

5. Sapo-boi e rei-leão
"Mas se a escolinha Berlitz deu-me todos os diplomas! Por que, ó plebeu, me tomas? Que a mim se respeite! Imite-se feito tal: sofrer de artritis, mas produzir entre comos tantos compêndios de aromas e de poliomielitis! Já não terei toda a juba, mas guardo o rugido e a baba, e de Pindamonhangaba a Itaquatatecetuba, ainda se louva, se gaba meu inglês e minha tuba!"

6. O rei menos o reino
Aracnídeo mutante, tua baba é perigosa. teu rugido não: é glosa sem o mote por diante... Pode até ser que suplante o Onestaldo, a tua prosa metrificada e babosa, mas quando a ter o desplante de trocar Goulart de Andrade por outro augusto batráquio, é vil regicídio! Ataque (o de ira ou o de vaidade) só coroa um rei de araque: o rei da mediocridade.

(E um P.S.)
O meu primo formou-se na USP, já eu não: ele mata mosquito no cuspe e eu na mão

Texto Anterior: Arte Cidade chega ao CD-ROM
Próximo Texto: POP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.