São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994 |
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Metalúrgico diz que governo errou ao entrar na negociação
MARCELO MOREIRA
"O governo não tinha todas as informações sobre o que estava acontecendo e se precipitou ao intervir nas negociações." Ele disse que o sindicato dos metalúrgicos mantém atualmente um bom relacionamento com a entidade das montadoras, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Guiba negou, porém, um "namoro" entre metalúrgicos e montadoras com o objetivo de permitir o aumento dos preços dos carros. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. Folha - O sindicato ganhou a queda de braço com o governo? Heiguiberto Navarro (Guiba) - O governo entrou de forma totalmente equivocada nas negociações entre metalúrgicos e empresas e acabou saindo de uma situação onde não deveria ter entrado. O que pode ter acontecido é que o governo não tinha todas as informações sobre o que estava acontecendo e se precipitou. Folha - Existe o "namoro" entre indústria automobilística e Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD? Guiba - Não há namoro nenhum. Eu perguntei ao ministro da Fazenda, Ciro Gomes, se ele havia dito que haveria um "namoro" entre sindicato e indústria com o objetivo de aumentar preços. O ministro me garantiu que não havia dito isso, afirmando que me conhecia e que jamais poderia imaginar algo parecido com isso. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD tem um relacionamento muito bom com a Anfavea atualmente, mas não significa que pudéssemos compactuar com a indústria para aumentar preços de carros. Folha - Até que ponto a reivindicação salarial dos metalúrgicos está ligada realmente à reposição ou à eleição de outubro? Guiba - A greve não é eleitoreira, é por aumento salarial. Se houvesse conotação eleitoreira, iríamos defender o repasse total da inflação, abrindo mão da reposição mensal. Folha - O sindicato abre mão do pagamento das horas paradas? Guiba - Não, não abrimos mão disso. Folha - A eleição de outubro prejudicou em algum momento as negociações? Guiba - Não, mas traz sempre a preocupação de associação da greve com eleições. Preocupação no sentido de ter de ficar explicando exaustivamente que a greve não é política. Já fui criticado na semana passada por militantes petistas por ter conduzido uma greve no momento errado, que disseram que ia prejudicar a campanha do Lula. O que eu disse? Que a campanha se danasse, em primeiro lugar vem a minha categoria. Do outro lado, recebo críticas do governo e de adversários políticos do PT porque a greve atrapalha o Plano Real. Ora, se a inflação fosse repassada para os salários não haveria o menor problema. Se eu for me preocupar se a greve ajuda ou atrapalha este ou aquele candidato ou governo eu e a categoria não fazemos nada. Folha - O Plano Real é eleitoreiro? Guiba - Sim, é eleitoreiro e recessivo. O plano não tem futuro, não tem perspectivas, tem efeitos apenas imediatos. O plano teve até gora três fases e nas três houve perdas para os trabalhadores. Na primeira, o FSE (Fundo Social de Emergência) foi aprovado com a retirada de verbas da educação e da saúde. Na segunda, com a criação da URV (Unidade Real de Valor), houve perdas. Com a introdução do real, novas perdas. Texto Anterior: Funcionários protestam para defender empresa Próximo Texto: Folha publica dicionário em 19 semanas Índice |
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