São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Governo aguarda 1º turno para adotar medidas

FERNANDO GODINHO
GUSTAVO PATÚ

FERNANDO GODINHO E GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo aguarda uma eventual vitória do candidato Fernando Henrique Cardoso (PSDB-PFL-PTB) no primeiro turno da eleição presidencial para iniciar uma série de correções no Plano Real.
As medidas já executadas até agora são insuficientes para garantir uma estabilidade econômica duradoura, reconhecem integrantes do próprio governo.
A Folha apurou que a equipe econômica tem adiado a resolução de diversos problemas que exigiriam medidas polêmicas ou impopulares.
É o caso de uma abertura no mercado de câmbio, com liberação para depósitos a prazo (espécies de contas remuneradas) em dólar e permissão para que fundos de pensão façam aplicações em moeda estrangeira.
Tais medidas deverão gerar maior procura por dólar, e elevar a cotação da moeda norte-americana. Na avaliação da equipe econômica, o dólar a R$ 0,85 é preocupante para as exportações.
Não há controle, também, sobre a pressão que os reajustes salariais farão sobre os preços, uma vez que o governo não dispõe de nenhum mecanismo que proíba o repasse destes percentuais para o bolso do consumidor.
Outro problema é o aumento do consumo, esperado para os próximos meses devido às festas de fim de ano. O consumo é visto como um fator de desestabilização ao forçar uma produção acima da capacidade da indústria, provocando falta de produtos e consequente aumento de preços.
Os pequenos bancos também passam por um momento preocupante, pois poderão quebrar se o controle monetário que vem sendo feito pelo Banco Central se tornar mais rigoroso, como pretende a equipe econômica.
Na Previdência Social –uma das áreas mais sensíveis para o equilíbrio econômico– a estabilidade também é precária. "Estamos no fio da navalha. A arrecadação dá para pagar os benefícios, mas este equilíbrio é muito sensível", disse o ministro da Previdência, Sérgio Cutolo.
No Ministério da Fazenda, os técnicos reconhecem a necessidade de medidas de sustentação ao plano, inclusive alterações constitucionais.
Desde a gestão de Rubens Ricupero, a equipe do Ministério da Fazenda vem trabalhando em torno de um pacote de reformas constitucionais que deverá ser encaminhado ao Congresso ainda este ano, mas só depois das eleições presidenciais.
Afinado com a campanha do seu amigo e correligionário FHC, o ministro Ciro Gomes (Fazenda) já decidiu adiar eventuais alterações na gerência do plano para depois do primeiro turno das eleições, no dia 3 de outubro.
Privatizações, por exemplo, estão suspensas temporariamente. Elas não contam com a simpatia do Palácio do Planalto, embora a equipe as considere imprescindíveis dentro da "lógica do plano".
A venda de estatais serviria para abater o déficit do governo e reduzir a dívida interna. O equilíbrio das contas públicas ainda é considerado precário, e poderá se romper em 1996.

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