São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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'Tieta do Agreste' morreu no interior de SP

ANDRÉ MUGGIATI
ENVIADO ESPECIAL A ASSIS

O escritor Jorge Amado esteve em Assis (460 km a oeste de São Paulo) pelo menos uma vez, em 74, para visitar um primo que era médico na cidade.
Durante esta viagem, ele teria estado na casa de Antonieta, uma famosa cafetina do interior paulista.
Ela teria inspirado o escritor na criação da protagonista do livro "Tieta do Agreste", lançado em 77, ano em que a verdadeira Antonieta morreu.
Para Sonia Loira, 54, ex-proprietária de um bordel na antiga zona do meretrício de Assis, próxima ao centro da cidade, Antonieta e Tieta "são a mesma pessoa".
Regina Severina dos Santos, 71, trabalhou durante 20 anos como cozinheira na casa da Antonieta.
Segundo ela, a cafetina nasceu em Jaú (312 km a noroeste de São Paulo) e foi para Assis para trabalhar como empregada doméstica.
Depois acabou sendo prostituta na casa de Antônia de Assis, 82, a Mãezinha, que no futuro seria sua maior concorrente.
Aos poucos, Antonieta foi montando pequenas casas de prostituição, até tornar-se dona de um dos maiores bordéis do interior.
"Ela era muito discreta, ninguém diria que era dona de uma casa", diz Regina.
"Todas queriam morar com a Antonieta, porque ela era muito boa", diz.
Os lucros vinham do bar e do aluguel dos quartos para os fregueses. O que as prostitutas cobrassem pelo trabalho, era delas.
"Elas tinham roupas diferentes para trabalhar, ir à cidade, à missa, ou qualquer atividade", diz.
Durante a noite tinham que se trocar entre um freguês e outro.
Antes de ir para a cama, tinham de fazê-los beber o máximo possível. Cada um podia ficar no quarto por no máximo 20 minutos.
Eram obrigadas a ir ao médico todos os meses.
"Ela não explorava ninguém e dizia para as moças que pensassem mais nelas mesmas", diz Regina.
A casa de Antonieta era frequentada por homens de todo o Estado e promovia shows com artistas como Ângela Maria e Nélson Gonçalves.
Ao lado do bordel, aos poucos, foram se instalando vários outros, que formaram a zona do meretrício na cidade.
Sônia não sabe ao certo quantas casas eram, mas havia 11 bares e um salão de danças.
Segundo ela, após sua morte, seus sobrinhos tentaram tocar o bordel. "Mas a zona nunca mais foi a mesma", diz.
Após o fechamento da zona, as casas de prostituição acabaram mudando-se para fora da cidade. Mas a maneira de administrar os negócios é a mesma até hoje.

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