São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Asilo fechado força peregrinação de idosos

LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O fechamento de asilos em São Paulo –13 em apenas quatro meses– está criando um novo problema: a peregrinação de idosos, que migram de uma casa de repouso para outra à espera de uma vaga ou de um parente que vá buscá-los.
O comerciante aposentado Nelson Pinheiro, 60, morava havia sete anos na Associação Beneficente Solar das Andorinhas, na zona norte.
No último dia 30, uma blitz fechou o asilo. Lá havia alimentos estragados e faltava um médico. O abrigo tinha 15 idosos. Só cinco famílias se apresentaram no mesmo dia para buscar internos.
Pinheiro estava no 2º mês de fisioterapia em um hospital próximo ao asilo para se recuperar de um derrame que o atingira em 93.
Com o fechamento do asilo, Pinheiro foi removido para a Casa de Repouso de São José, uma instituição do outro lado da cidade, em Sapopemba (zona leste). Ele teve que interromper o tratamento.
Dois dias depois da transferência, Pinheiro e mais oito idosos que vinham do asilo fechado não sabiam ainda onde iriam morar.
A responsável pelo São José, Maria Madalena de Oliveira, já anunciara: "Aceitei eles aqui porque não ia deixá-los na rua, mas não tenho vagas para todos".
Muitos internos não recebiam visitas e pagavam o asilo com o dinheiro da aposentadoria.
"Não me perguntaram se eu queria mudar de lá. Sei que tinha problemas, mas agora o que eu vou fazer", pergunta Pinheiro.
A preocupação era partilhada pelos outros internos. "Não ganho o suficiente para pagar esse lugar e sei que ninguém virá me buscar", reclamava Rosa Pereira, 70.
Duas semanas depois da mudança para o asilo São José, o grupo já estava desfeito: três foram levados por parentes e dois foram transferidas para outro asilo no centro. Só quatro continuavam no São José.
Na quinta-feira, dia 8, Pinheiro se sentiu mal e foi levado para o Hospital Santa Marcelina. Ele sofreu um segundo derrame e os médicos descobriram uma fratura em seu quadril.
O derrame, segundo os médicos, foi "brando". Mas a fratura vai obrigar Pinheiro a ficar no hospital até o final do mês.
"Nunca pensei em ficar velho. Mas acho que é assim mesmo", diz Pinheiro.
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