São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Preso azarado é único a ser capturado 2 vezes

Em duas fugas, 55 detentos escapam e só Almeida volta

MAURICIO STYCER ; FERNANDO BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

No intervalo de nove dias, o preso Fernando Cesar de Souza Almeida, 29, conseguiu fugir duas vezes da cadeia –e nas duas vezes foi recapturado.
Por uma série de coincidências, de uma hora para outra Almeida se transformou no preso mais azarado de São Paulo.
Na primeira fuga, na madrugada do último dia 6, Almeida fugiu com outros 37 presos da cadeia do 95º DP, localizado junto à favela de Heliópolis (zona sul).
O azar de Almeida começou logo de manhã. Ao se dirigir para o trabalho, de ônibus, o carcereiro da delegacia, Carlos André da Costa, viu Almeida parado num ponto de ônibus na av. Tancredo Neves (zona sul), estranhou e prendeu o fugitivo.
Almeida foi o único dos 37 presos a ser recapturado.
No último dia 14, Almeida integrou um grupo de 18 presos que escapou do 95º DP de madrugada. No dia seguinte, na mesma av. Tancredo Neves, foi recapturado pelo Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos).
Como na primeira vez, foi o único preso a voltar à cadeia.
"Azarado eu não sou. Mas sei que é difícil explicar essas coisas. Acho que meu destino era não fugir", disse Almeida à Folha na última sexta-feira.
Paraibano de uma cidadezinha que não aparece no mapa, a 7 km de Campina Grande, Almeida chegou a São Paulo, procurando trabalho, em outubro de 1989.
No dia 8 de novembro daquele ano, foi preso no Guarujá, por ter roubado quatro bicicletas.
Condenado a cinco anos e quatro meses, afirma faltar cinco meses para deixar a prisão.
Como um terço dos condenados em São Paulo, Almeida cumpre pena de forma irregular em cadeias de delegacia –e não em presídios. O 95º DP é a quinta cadeia pela qual já passou.
"Nasci para trabalhar, não para ficar na cadeia", diz Almeida, que estudou até a 3ª série. "Não tenho profissão. Qualquer trabalho é trabalho", acrescenta.
Hoje, a sua única preocupação é ser solto no exato dia em que cumprir toda a pena. "Não posso corrigir erro de ninguém. Já tenho os meus para corrigir. Mas ninguém pode pagar além da conta pelo que fez", diz.
O grande sonho de Almeida é voltar para Puxixanã, na Paraíba. Lá deixou uma mulher e uma filha. "É complicado analisar os acontecimentos da minha vida. Só quero voltar para o Norte".(Mauricio Stycer e Fernando Barros)

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