São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Seca expõe cemitério em Guarapiranga

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de chuvas que vem atingindo a cidade de São Paulo há quase dois meses fez aparecer nas margens da represa Guarapiranga (zona sul) um cemitério de objetos.
Os moradores da região já encontraram todo o tipo de coisa: pneus de mil e um tamanhos, móveis, fogões, geladeiras e até carcaças de carros supostamente roubados e abandonados na represa.
"Há uma semana tinha um pedaço de carro preso num tronco no meio da Guarapiranga. Mas alguém passou e levou", diz o caseiro Elias de Souza, há oito anos trabalhando no local.
"Já vi restos de uma geladeira e pedaços de móveis. Cada vez que baixa o nível da represa, eu me surpreendo com as coisas que aparecem", afirma Souza.
O caseiro diz que só viu seca pior do que esta em 86. "Naquela época, a represa secou toda. Dessa vez, pelo menos sobraram pocinhas pra aliviar o calor."
No trecho visitado pela Folha na última sexta (no Parque do Lago), havia pneus por todo o lado e até uma velha poltrona.
"O que é fácil de tirar, a gente limpa. Mas tem coisas que são pesadas demais e o jeito é deixar lá até chover de novo", diz Souza.
Na parte da represa que fica ao lado da avenida Robert Kennedy (Interlagos), os efeitos da seca são ainda mais visíveis.
A maior parte das lanchas e barcos à vela que ficam ancorados nas marinas da região estão parados. Só os de menor porte têm velejado normalmente.
Em frente à Marina Guarapiranga, a situação é crítica. Parte da represa se transformou numa praia com quase 100 m de extensão.
No Nautclube Flórida, os barcos com mais de 8.000 pés estão ilhados, já que as águas da represa foram reduzidas a uma grande poça.
O caixa do restaurante Interlagos, Jair Luís Menezes, 27, também garante que nunca viu seca igual nos sete anos em que trabalha no local.
"Ficamos com medo de o movimento diminuir por causa da seca, mas durante os fins-de-semana o restaurante continua cheio."
Abastecimento
Com apenas 43,6% de sua capacidade normal, a Guarapiranga é uma das represas mais afetadas pela estiagem entre as que abastecem a Grande São Paulo.
Responsável pelo abastecimento de toda a zona sul, a represa consegue operar até que a sua capacidade fique reduzida a 20%. Depois disso, os bairros da região da sul ficarão submetidos ao regime de rodízio no fornecimento.
Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o abastecimento está garantido até o final do mês.

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