São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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A crise do Banespa

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O mercado financeiro vive com o coração na boca nesta reta final das eleições. Mal havia passado o susto do episódio Ricupero, outra crise estourou. Nesta última quarta-feira o Banespa não conseguiu cobrir sua conta de reservas junto ao Banco Central, ficando tecnicamente insolvente. Somente o socorro financeiro do Banco do Brasil, articulado freneticamente em Brasília durante a madrugada de quinta-feira, evitou uma crise dramática para todo o mercado.
A drástica redução da inflação provocou profundo processo de acomodação do dinheiro que circula no mercado financeiro. Grande parte das aplicações financeiras deixou o chamado open market e virou moeda em circulação e depósitos à vista nos bancos comerciais.
Com o compulsório de 100% sobre os depósitos à vista, fixado pelo Conselho Monetário para evitar o aumento do crédito bancário, esta migração de recursos do open para os bancos correspondeu, na prática, a um recolhimento de moeda.
Com isso, houve redução drástica dos recursos disponíveis para a rolagem dos títulos públicos emitidos pelos Estados e que eram rolados no dia a dia do open pelos bancos estaduais. No início, um equilíbrio precário foi encontrado pela maior participação dos bancos privados no financiamento destas carteiras.
Quando, há questão de alguns dias, o BC resolveu apertar mais a liquidez da economia, com o aumento do compulsório sobre os depósitos a prazo, o equilíbrio foi rompido.
Por um lado, os bancos privados tiveram que reduzir suas aplicações em títulos estaduais para recolher o novo compulsório à autoridade monetária. Por outro, os próprios bancos estaduais, e entre eles o mais atingido foi o Banespa, tiveram que retirar de seus caixas mais recursos para depósito no BC. No caso do Banespa, representa mais de R$ 2 bilhões ao longo das próximas semanas.
A dose exagerada deste purgante monetário provocou a crise. E como sempre acontece em situações como esta, a corda rompeu do lado mais fraco, ou seja, o Banco Central. As regras do compulsório tiveram que ser mudadas novamente e o governo teve que amargar um desgaste desnecessário junto à opinião pública.

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