São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Política industrial ou castigo

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE

MARCOS CINTRA
As bruscas reduções nas alíquotas do Imposto sobre Importação e a forte valorização do real estão criando um paraíso para os consumistas.
Além de poderem comprar produtos estrangeiros a preços equivalentes (ou inferiores) aos nacionais, a política de liberalização das importações está sendo um eficiente método de controle da inflação.
Aparentemente, uma opção perfeita. Preços baixos, qualidade de produtos e inexistência de inflação. Mas há que distinguir uma política de abertura da economia de uma política de controle de preços.
A abertura da economia é um mecanismo de aumento de produtividade e busca de competitividade. Os Tigres Asiáticos nos mostram que a melhor opção é uma combinação de proteção temporária com o anúncio prévio de reduções graduais de alíquotas de importação.
Assim, os produtores internos terão tempo para investir e concorrer com os produtos do exterior. Aumenta-se a produtividade, caem os preços e mantém-se os empregos e a produção doméstica. Ganha-se maior mercado interno e abre-se espaço nos mercados externos.
Por outro lado, o exemplo argentino nos mostra que a entrada indiscriminada de importados pode desindustrializar rapidamente uma economia. Ela não foi previamente anunciada, pegando muitos setores despreparados para concorrer.
A redução das alíquotas está sendo implantada mais como punição pela ganância do que como estímulo à produtividade. Além de gerar problemas para a manutenção do mercado interno, a valorização do real está fazendo o país perder mercados externos. Vários setores estão paralisando as exportações.
Este é um dos conflitos que o Plano Real terá de enfrentar mais alguns meses. Junto com a política salarial, a política comercial e cambial será um desafio para a equipe econômica.
As necessidades de curto prazo exigem a redução abrupta do preço dos importados, enquanto que uma política industrial e de crescimento econômico de longo prazo exige reduções paulatinas e anunciadas.
A solução desses conflitos não dependerá do Executivo, mas do próximo Congresso.

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