São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Compulsório e abertura tentam frear preços

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento do compulsório bancário foi uma resposta ao "crescimento preocupante" do consumo, disse em entrevista à Folha, na última sexta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Alkimar Moura.
É a primeira vez que uma autoridade do governo confirma esta avaliação. Segundo Alkimar, consumo excessivo poderia levar ao desabastecimento e tornar os empresários mais generosos nas negociações salariais, com consequências inflacionárias logo adiante.
Leia os principais trechos da entrevista, concedida na sede paulista do BC:

CONSUMO
O BC percebeu que havia indícios de um certo aquecimento da demanda agregada. Não era um crescimento explosivo, mas preocupante. Poderia levar, inclusive, a problemas de desabastecimento. Numa economia em expansão, é mais ampla a possibilidade de a generosidade dos empresários em conceder aumentos salariais seja depois repassada aos preços. Então, havia um risco de uma inflação futura maior. É por isto que o governo adotou o compulsório, para conter o crédito, e a redução tarifária, para aumentar a oferta. Surgiram várias sugestões para se conter o crédito. Por que o BC preferiu o compulsório? O contingenciamento direto do crédito é facilmente contornável, leva à desintermediação financeira e a distorções.
EFICÁCIA
Nós não temos informações muito precisas ainda, mas tudo indica que houve uma redução no número de prestações e no volume de crédito.
COMPULSÓRIO
Não serão retirados R$ 15 bilhões da economia. Existe uma acomodação do sistema quando sujeito a um choque de oferta. Bancos que tem ativos mais líquidos, por exemplo, BBCs, vão vender estes papéis. O que significa dizer que uma parte do ajustamento do compulsório está sendo feito pelo próprio BC. Assim, o efeito líquido vai ser menor.
BANCOS ESTADUAIS
Embora a restrição ao crédito não tenha sido feita desta forma para afetar mais duramente os bancos estaduais, eles têm sido afetados. Pela natureza dos ativos em suas carteiras, ele vão ser mais afetados.
EFEITO NOS JUROS
O efeito do compulsório sobre a taxa de juros é mais significativo para o tomador de crédito. Ele cria uma diferença maior entre a taxa de captação e a taxa de empréstimo. METAS MONETÁRIAS
Independentemente do valor absoluto, dos números, o fato mais importante é que não tem havido expansão nem por compras cambiais nem financiamento de déficit público. INDEXAÇÃO VIA JUROS
É muito popular, principalmente entre os empresários, dizer que o juro passa a ser custo. Se alguns setores mais oligopolizados podem embutir a taxa de juros no preço à vista e, de fato, indexar o preço pelo juro, isto pode não ocorrer na economia como um todo. Se o juro for suficientemente atrativo para o poupador, ele não sanciona a demanda. E, nos setores oligopolizados, a abertura pode servir como um anteparo para os preços.
CÂMBIO
Uma parte da restrição de crédito imposta pelo compulsório vai ser desfeita pelo acesso que alguns setores têm ao crédito externo mais barato. No caso particular brasileiro, este acesso não se reflete em expansão monetária, mas na taxa de câmbio

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