São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-agente lembra ida para os EUA

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Lester Richardson, inglês de 66 anos, jornalista e advogado, foi empresário e conselheiro de jogadores, inclusive Martina Navratilova. Richardson trabalhava para ela em 1975, quando a tenista pediu asilo nos EUA.
Os dois cortaram relações em 1979. Segundo ele, "a desconfiança dela impede que fique muito tempo com as mesmas pessoas". Do All England Tennis Club, onde trabalha na revista do clube, Richardson falou por telefone à Folha.

Folha - Qual foi seu papel no pedido de asilo de Martina ao governo dos EUA?
Richardson - Eu era empresário de um grupo de tenistas e Martina era uma delas. Não tratei diretamente do pedido de asilo, apenas me certifiquei de que o advogado que ela tinha contratado para acompanhar o processo era capacitado. Só dei apoio a ela.
Folha - Que tipo de apoio? Psicológico?
Richardson - Seria presunçoso se afirmasse isso. Martina não me pediu conselhos, se é isso que você quer saber. Ela nunca foi do tipo de pessoa que pede opinião de outros. Que eu ficasse sabendo, ela conversou apenas com os pais.
Billie Jean King gosta de dizer que influenciou Martina para a decisão, mas duvido.
Folha - O que você fez para ajudá-la?
Richardson - Durante os primeiros meses, eu guiei a vida financeira dela. Ela parou de enviar dinheiro para a Federação Tcheca, ao mesmo tempo em que seus prêmios aumentavam.
Folha - A própria Martina reconhece que perdeu o controle quando passou a viver nos EUA...
Richardson - Sem dúvida. Eu já tinha trabalhado com outros tenistas do Leste Europeu, já tinha visto aquele filme antes. Ela comprava coisas sem perguntar preço. Foi enganada várias vezes.
Folha - Ela disse certa vez que você se meteu demais na vida dela.
Richardson - Nosso relacionamento teve problemas. Martina é uma pessoa desconfiada, é o jeito dela. Muitas vezes ela pensou que eu queria passá-la para trás. Por causa disso, nos distanciamos. Trabalhei com ela cinco anos, mas nos três últimos nos víamos pouco.
Folha - Você acompanhava seus treinamentos?
Richardson - Alguns. Ela não tinha disciplina nenhuma, gostava de bater bola sem seguir nenhum trabalho preestabelecido.
Folha - Quais eram suas companhias na época?
Richardson - Sei o que você está querendo saber. Martina tinha muitas amigas, não sei se namorava alguma. Martina era muito reservada. Mas ela era muito assediada pelos homens. Jornais queriam que eu conseguisse fotos em que ela estivesse, digamos... sensual.
Folha - Ela fez várias temporadas sem treinador. Por que essa opção?
Richardson - Como eu disse, Martina não gosta de pedir conselhos. Poucas pessoas na vida dela conseguem ser próximas o suficiente para influenciá-la. Ela não se abre facilmente. Se ela acha difícil escolher seus amigos, deve ter demorado muito a escolher um treinador.
Folha - Quando ela foi para os EUA, você apostava que ela seria a nº 1?
Richardson - Bem, eu poderia mentir para você, apenas para impressionar os leitores do seu jornal, mas confesso que não imaginava que Martina fosse tão longe.
Folha - Ela mudou para se tornar o que é?
Richardson - Ela já tinha o talento. Faltava perseverança. Jogava muito bem num dia, muito mal no dia seguinte. Eu a via em 1975 e pensava: "Nunca será como Chris (Evert) ou Billie (Jean King)." Martina calou a boca de quem não acreditava nela. Inclusive a minha.

Texto Anterior: Martina Navratilova escolhe a liberdade pela segunda vez
Próximo Texto: Portuguesa se arma para anular Túlio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.