São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Manchas das colisões persistem em Júpiter

JEFF HECHT
DA "NEW SCIENTIST"

Cinco semanas após o último choque do cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter, os maiores pontos de impacto }ainda estão bem visíveis, mas estão se espalhando, levados pelos ventos jupiterianos, diz Dan Green, pesquisador do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica.
Os astrônomos não previram que as manchas durassem tanto tempo, e devido à concorrência acirrada por tempo de utilização dos telescópios, programaram poucas observações pós-choques em telescópios grandes.
Os grandes telescópios voltaram a ser dirigidos a distantes quasares e galáxias, deixando apenas instrumentos pequenos para estudar as consequências da colisão.
Tanto o telescópio Keck, de dez metros de comprimento, quanto o telescópio espacial Hubble pararam de fotografar Júpiter no fim do mês passado.
Dan Green considera }pecado o telescópio Hubble ignorar o acontecimento, único e insubstituível, }para examinar quasares e galáxias rotineiros, que podem ser vistos a qualquer momento.
Segundo John Rogers, diretor da Seção Júpiter da Associação Astronômica Britânica, as manchas ainda podem ser vistas por amadores com telescópios de apenas seis centímetros.
Ele já recebeu dados enviados por amadores de pontos tão distantes entre si quanto Bélgica, Bolívia, Reino Unido, Índia e Estados Unidos.
Ele gostaria de obter mais observações do hemisfério Sul, onde Júpiter fica mais elevado no céu e pode ser observado por períodos de tempo mais longos.
Segundo Rogers, as grandes cicatrizes dos primeiros impactos já começaram a desaparecer.
O ponto A, onde bateu o primeiro fragmento, desapareceu em duas semanas, }mas o ponto L e outros posteriores se mantiveram tão grandes e escuros quanto no início por quase três semanas.
Os astrônomos profissionais ainda estão analisando seus dados, embora a maioria das observações com grandes telescópios tenha terminado uma semana depois do impacto final.
}Acho que nenhum de nós esperava obter a quantidade de dados que obtivemos. Estamos todos um pouco atordoados, diz Heidi Hammel, do Massachusetts Institute of Technology.
Alguns astrônomos já reportaram seus resultados preliminares, como Robert Gertz, da Universidade de Minnesota, que detectou metano, hidrogênio e hidrocarbonos mais complexos em observações infravermelhas.
As quantidades de gases diferentes variam de um local para outro, sugerindo que os fragmentos penetraram a atmosfera jupiteriana até diferentes profundidades.
Entre os primeiros frutos da análise detalhada dos dados figurou um informe sobre uma detecção de água, de curta duração, nas nuvens provocadas pelas colisões dos fragmentos G e K.
O Observatório Aerotransportado de Kuiper, da Nasa, detectou três linhas de emissão características de água assim que a nuvem do impacto tornou-se visível, mas essas linhas desapareceram depois de cerca de 30 minutos.
As emissões de água saíram da estratosfera jupiteriana, segundo Gordon Bjoraker, do Centro Goddard de Vôos Espaciais, da Nasa.
Ele diz que a localização e o momento das emissões confirmam que o Shoemaker-Levy foi um cometa e não um asteróide, fato que alguns observadores haviam colocado em dúvida, porque não se havia encontrado água.
O mais longo estudo feito com telescópio de grande porte, um mês de observações feitas com o telescópio infravermelho de três metros da Nasa em Mauna Kea, Havaí, terminou na noite de 6 de agosto.
O estudo mostrou que partículas muito pequenas continuam suspensas acima de todos os pontos de impacto, diz Glenn Orton, da Jet Propulsion Laboratory.
A temperatura da atmosfera superior voltou ao normal depois de um ou dois dias, mas, num nível inferior da atmosfera, a temperatura dos pontos de impacto ainda está uma fração de grau mais alta do que nas áreas vizinhas.
Tradução de Clara Allain

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