São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Gravidade pode revelar matéria escura

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Corey S. Powell noticiou na revista "Scientific American" que três grupos astronômicos internacionais detectaram sinais luminosos, devidos à interferência de microlentes gravitacionais, que podem indicar a existência de objetos estelares invisíveis na matéria escura ou negra do Universo, talvez confirmando uma das hipóteses sobre a natureza dessa matéria.
Um dos grupos é norte-americano e australiano, sendo liderado por Charles Alcock; outro, chefiado por Bodhan Pacynski, é norte-americano-polonês, e o terceiro, francês, é comandado por Michel Spiro.
Lente gravitacional é a propriedade dos campos gravitacionais intensos de desviar os raios luminosos que passam perto deles. A existência desse fenômeno no espaço foi sugerida em 1937 por Fritz Zwicky como uma das consequências da teoria da relatividade geral de Einstein.
Muitos astrônomos entendem que os "vazios" do Universo, onde não se vê matéria brilhante (estrelas, planetas, galáxias etc.) sejam constituídos por uma substância invisível até pelos telescópios e de natureza ignorada.
Sobre essa natureza os especialistas têm construído muitas hipóteses, algumas realmente fantasiosas. Os físicos, por exemplo, povoaram-na de estranhas partículas, os "wimps" (partículas maciças de fraca interação). Kim Griest, por sua vez, reuniu sob o nome de "machos" (objetos maciços do halo) uma porção de corpos muito maiores – verdadeiros astros invisíveis que corresponderiam a pequenas estrelas de pouca massa e anãs marrons (astros intermediários entre estrelas e planetas). Esses objetos estariam no halo de nossa galáxia, segundo os 3 grupos de astrônomos.
Em 1986 Paczynski imaginou um meio de detectar a força gravitacional dos "machos", apesar de eles serem praticamente invisíveis, utilizando os efeitos das lentes gravitacionais. Quando um "macho" passasse entre uma estrela e a Terra, o observador veria aumentar o brilho da estrela, que depois diminuiria gradativamente, fenômeno de perfeita simetria não observado nas estrelas variáveis (astros cuja intensidade luminosa varia por períodos mais ou menos longos).
Mas para realizar a sugestão de Paczynski seria preciso monitorar o brilho de milhões de estrelas, o que só mais tarde se tornaria possível com o advento de melhores detetores digitais de luz e computadores de alta velocidade.
Em 1993, preenchidas essas condições, os três grupos iniciaram a busca sistemática de "machos" pelo método imaginado por Paczynski.
No fim do ano todos eles anunciaram êxito, registrando os caprichosos sinais luminosos. Deve-se notar, entretanto que as estrelas não mudaram de cor durante o evento, ao contrário do que costuma ocorrer no processo de "microlensing".
Não se pode todavia concluir que o problema da matéria escura já esteja resolvido. É preciso antes afastar a hipótese de se tratar de alguma espécie nova de estrela variável. Além disso, os próprios autores ainda registram certas imperfeições em seus dados. A conclusão deles é que se torna preciso examinar muito maior número de estrelas.

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