São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Líder haitiano faz elogio a Carter

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

A chegada ao Haiti da delegação do governo dos Estados Unidos liderada pelo ex-presidente Jimmy Carter para manter conversações com o governo militar do país estava prevista para as 13h45 de ontem em Porto Príncipe (14h45 em Brasília).
O general Raoul Cedras, homem-forte do Haiti, cobriu Carter de elogios em entrevista à rede de TV CNN.
Disse que o ex-presidente é um "homem honrado", "que fez um bom serviço" como fiscalizador das eleições de 1990, em que o presidente no exílio Jean-Bertrand Aristide foi eleito.
Em Washington, o governo Clinton esgrima palavras para tentar provar que o presidente não recuou de suas ameaças de quinta-feira, quando afirmou categórico que o prazo para soluções diplomáticas tinha acabado.
O assessor de segurança nacional da Casa Branca, Anthony Lake, dizia que a missão Carter não vai "negociar", mas sim "discutir" com os militares "apenas os termos de sua partida".
É certo, no entanto, que Cedras vai tentar convencer Carter a insistir com Clinton para haver algum tipo de saída honrosa para seu governo em troca da suspensão de hostilidades contra as tropas norte-americanas.
Revelou-se ontem que a iniciativa da viagem de Carter a Porto Príncipe foi do próprio ex-presidente, que ligou para Clinton na manhã de sexta-feira, depois de ter falado por telefone com Cedras na véspera.
Clinton acabou aceitando a sugestão de enviar Carter ao Haiti depois de ter constatado que Cedras não aceitou os termos de seu ultimato de quinta e mobilizou milhares de civis armados para uma passeata na sexta-feira e que seu discurso não diminuiu dramaticamente a oposição dos americanos à idéia da invasão nem a resistência do Congresso a ela.
O presidente sugeriu a Carter que o senador Sam Nunn, presidente da comissão das Forças Armadas do Senado, e o general Colin Powell, ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, se juntassem ao ex-presidente. A idéia foi aceita com entusiasmo por Carter.
Nunn e Powell, como Carter, haviam se manifestado contra a proposta de invasão do Haiti durante a semana.
A decisão de Clinton desarmou seus críticos pelo menos por algum tempo. Embora ela contribua para reforçar a impressão de um presidente vacilante, que ameaça e volta atrás com frequência, também vai aumentar o peso dos seus argumentos de que tudo foi tentado para uma solução pacífica.
A missão Carter adia tanto a invasão, que se antecipava para domingo, quanto uma votação do Congresso sobre o assunto, esperada para segunda-feira. Enquanto o ex-presidente estiver no Haiti, tudo fica em suspenso.
A delegação dos EUA vai se reunir com os chefes militares e também com empresários, líderes da sociedade civil e religiosos. Antecipa-se que a missão Carter se prolongue pelo menos até o fim do dia de hoje.
Se não houver acordo com os militares, a invasão pode ocorrer amanhã à noite. Toda a armada dos EUA está a postos na costa do Haiti. Se houver entendimento, o desembarque pode ocorrer na terça de manhã.
Carter, Nunn e Powell viajaram a bordo de avião oficial dos Estados Unidos.
Ontem de manhã, soldados haitianos desobstruíram para ele uma das pistas do aeroporto de Porto Príncipe, bloqueadas por contêineres na semana passada para dificultar o pouso de aviões militares norte-americanos.

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