São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Julgamento de Simpson começa dia 26

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O "julgamento do milênio", por falta de superlativo maior, começa no próximo dia 26 em Los Angeles, costa oeste dos EUA.
O. J. Simpson (pronuncia-se "oudjêi"), negro, maior ídolo do futebol americano da década de 70, ator, porta-voz da locadora de automóveis Hertz, comentarista esportivo, um dos personagens públicos mais admirados do país, vai ser julgado pelo homicídio duplo de sua ex-mulher Nicole Brown Simpson, loira, bonita e simpática, e do amigo dela Ronald Goldman, branco, atraente e jovem.
Os assassinatos ocorreram no dia 12 de junho, um domingo. Simpson e Nicole, divorcidados desde 1992 mas em sucessivas indas e vindas sentimentais nos últimos dois anos, levaram os filhos a um recital de dança à tarde.
Depois, cada um foi para a sua casa, a quatro quilômetros de distância uma da outra.
Simpson jantou numa lanchonete da rede McDonald's com o amigo Kato Kaelin, que vive numa casa dentro da propriedade do ex-jogador de futebol. Nicole foi com as irmãs e os filhos ao restaurante Mezzaluna.
Ao chegar em casa, num condomínio de classe média alta, Nicole percebeu ter esquecido seus óculos no restaurante.
Ligou para lá e Ronald Goldman, amigo dela que era garçom no Mezzaluna, se ofereceu para levá-los a ela.
Em algum momento entre 22h e 23h, Nicole e Goldman foram esfaqueados até a morte em frente à casa dela.
Simpson deveria viajar para Chicago, a negócios, num vôo que partiu às 23h45 daquela noite.
O motorista da limusine que o levou ao aeroporto afirma ter chegado à casa dele às 22h45 e não ter obtido resposta a sucessivos chamados pelo interfone da campainha, até as 23h, quando Simpson embarcou em seu carro.
Passageiros do vôo para Chicago afirmam que Simpson estava calmo e simpático, distribuindo autógrafos e conversando com naturalidade.
A polícia encontrou uma luva na cena do crime e seu par na propriedade de Simpson.
Exames de DNA (ácido desoxirribonucléico) provam que amostras de sangue obtidas no local do crime são compatíveis com o tipo sanguíneo de Simpson.
Segundo os advogados da defesa, a luva foi colocada na mansão do réu pelo policial Marc Furnham. Ele pediu para se aposentar em 1981 por problemas psiquiátricos causados pelo excesso de violência no trabalho.
Furnham, 42, é acusado de ter "plantado" as principais provas utilizadas contra Simpson por supostos sentimentos racistas.
Ainda segundo a defesa, o sangue compatível com o dele encontrado na casa da vítima foi derramado muito antes da data do crime devido a um corte na mão de Simpson durante uma de suas frequentes visitas aos filhos.
Simpson só foi preso no dia 17 de junho. Antes, ele foi ao enterro da mulher e, confrontado pela sogra, jurou inocência.
Acusado, desapareceu durante todo um dia. A polícia de Los Angeles o caçou de maneira frenética.
Foi avistado nas imediações do cemitério onde Nicole está enterrada, dentro de uma perua branca, dirigida pelo amigo Al Cowlings. Perseguido por 96 km, acabou se entregando em casa.
Ele carregava uma arma com o aparente desejo de se matar. Havia deixado com outro amigo uma carta que demonstrava a intenção suicida. Mas no carro também estava seu passaporte, US$ 10 mil em dinheiro e uma barba postiça.
Há três meses que nenhum outro assunto é mais comentado nos EUA do que o caso Simpson. A histeria vai chegar ao ápice nos próximos 180 dias, tempo previsto de duração do julgamento.
Pelo seu crime, Simpson poderia ser condenado à morte. Mas a promotoria, depois de semanas de dúvidas, resolveu pedir apenas a prisão perpétua.

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