São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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EUA têm 1,2 milhão atrás das grades

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Jermain Padgett, 22, foi condenado na semana passada nos Estados Unidos a nove prisões perpétuas por tráfico de drogas na Carolina do Norte. Seu parceiro, Carlos Kinard, 20, foi sentenciado a sete perpétuas, mais 90 dias.
As penas somaram várias ofensas e são as mais longas impostas até hoje a criminosos federais nos Estados Unidos.
Foram anunciadas no mesmo dia em que o presidente Bill Clinton assinou a nova lei anticrime norte-americana, a "crime bill", que prevê gastos de US$ 30 bilhões nos próximos anos.
A aplicação de sentenças cada vez maiores e leis cada vez mais duras nos Estados Unidos existe há duas décadas.
Neste tempo, as cadeias norte-americanas tornaram-se as mais cheias entre os países considerados desenvolvidos e só perdem, segundo novo estudo divulgado na semana passada, para a superlotação carcerária da Rússia.
Mais de 500 cidadãos entre cada 100 mil norte-americanos estão condenados. A taxa é 12 vezes maior do que a do Japão e encosta na maior do mundo, de 558 para 100 mil, da Rússia.
Atualmente, cerca de 1.600 pessoas são presas todas as semanas nos Estados Unidos, segundo o Departamento de Justiça.
No total, há 1,2 milhão atrás das grades, o equivalente à população total do Estado de Nevada.
Na Califórnia e em Ohio, a superlotação é a mesma de várias cadeias brasileiras, acima dos 90% da capacidade.
Cerca de US$ 10 bilhões aprovados na semana passada no conjunto da "crime bill" serão usados pelos Estados Unidos na construção de novas penitenciárias.
William Barr, do The First Freedom Coalition, grupo formado por advogados defensores de uma reforma no sistema penitenciário, diz que como o crime é o "inimigo número um" americano, é também a prioridade dos políticos –que não estariam atacando as causas da criminalidade, como o desemprego e a imigração ilegal.
Mas a explosão carcerária não foi apenas consequência de mais crimes graves e também não diminuiu sua ocorrência.
Os crimes menores do passado é que tornaram-se passíveis de punições maiores.
Na última década, a população carcerária nos Estados Unidos aumentou 102% e o número de pessoas em condicional ou prisão domiciliar quadruplicou.
O número de crimes violentos no país cresceu menos de 40% no mesmo período.
Outras ofensas, como as relacionadas a drogas, ganharam espaço inédito no sistema judiciário e nas cadeias.
Nos últimos seis anos, o total de presos nos Estados Unidos em prisões estaduais por crimes relacionados a entorpecentes, incluindo consumo e porte de pequenas quantidades, aumentou de 8,6% para 22% do total dos detentos.
Nas prisões federais, cerca de 60% dos presos estão cumprindo penas relacionadas a drogas.
O tempo médio que um criminoso passa na cadeia também dobrou em vários casos desde 1987, aumentando a superlotação.
Subiu de 45 meses para 91 meses nos casos de roubo, por exemplo, e de 23 meses para 72 meses em ofensas envolvendo drogas.

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