São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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De olho no voto

DE OLHO NO VOTO

O caderno especial "Olho no voto" publicado hoje por esta Folha presta um serviço inédito ao eleitor, oferecendo um balanço do desempenho da Câmara em geral e dos deputados candidatos à reeleição. São informações que buscam dar ao eleitor meios para avaliar melhor o Congresso. É notório o distanciamento entre representantes e representados, a ponto de a maioria do eleitorado nem sequer se lembrar em quem votou na última eleição.
Pesquisa Datafolha sugere desde logo que a avaliação da Câmara fica longe de ser positiva. Só 21% dos eleitores pretendem votar num dos atuais deputados, enquanto 48% descartam candidatos que já detêm mandato. E o desejo de renovação não surpreende. Apesar de decisões como o impeachment, a atual legislatura deixou de cumprir tarefas como votar o Orçamento de 94 e revisar a Constituição. A CPI do Orçamento, se cassou seis deputados e levou quatro à renúncia, inocentou outros sete (além de um senador) e deixou como saldo um acre sabor de trabalho mal feito.
Também a impressão geral de que o absenteísmo campeia livre pelo Congresso se confirma no caderno. Quase 40% dos deputados pesquisados faltaram a mais de um terço das sessões, e 29 deles ausentaram-se de mais da metade delas. E isso porque as ausências computadas excluem as segundas e sextas-feiras, dias úteis para todo o restante do país, mas nos quais sequer há lista de presença no Congresso.
A Constituição pune a falta a mais de um terço das sessões do ano legislativo com a cassação do mandato, mas os abonos na Câmara são tantos e tão flexíveis que a punição torna-se quase inexistente.
A quantidade de projetos apresentados não contribui para melhorar a imagem dos candidatos à reeleição. Ao longo do seu mandato, esse grupo de 427 legisladores apresentou apenas 72 propostas que acabaram sendo aprovadas.
É evidente que em meio a esse cenário desalentador há exceções e destaques e é importante que o eleitor leve em conta ainda o comportamento dos candidatos nas votações citadas no caderno, comparando-o às suas próprias posições.
Os itens levantados, pode-se argumentar, não esgotam a totalidade da atuação parlamentar. É inegável, porém, que os dados oferecem ao eleitor uma sólida e inédita base para avaliar seus representantes. Mais ainda, servem desde já como alerta para os futuros deputados ao indicar o quanto o trabalho de seus antecessores deixou a desejar.

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