São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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O esquecido ser humano

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Um seminário sobre emprego, desemprego e produtividade, promovido na sexta-feira última pelo GEHR (Grupo Executivo de Recursos Humanos), fez uma avaliação crítica da tal de reengenharia, a profunda alteração nas organizações empresariais que está em acelerado andamento no mundo todo.
Para mim foi uma surpresa porque acompanhei esse tema muito de longe, não por desinteresse, mas por me parecer uma daquelas coisas inevitáveis que ocorrem goste você ou não, tal como o sol nascer todos os dias. Por isso, imaginava que fosse um sucesso absoluto, de tanto que se fala em reengenharia.
Coincidentemente, o número mais recente da revista "'Worldlink", editada pelo Forum Econômico Mundial, com sede na Suíça, traz um artigo compilando idênticas restrições. Assina-o Rosabeth Moss Kanter, da Escola de Administração de Negócios da mitológica Harvard University.
O problema que está ocorrendo parece muito semelhante ao que surge no mundo mais amplo da política: o ser humano ficou relativamente obscurecido nessa reengenharia, assim como nas engenharias políticas mais recentes. Parece mais importante que os Estados ou as companhias tenham um bom desempenho do que o ser humano se sentir mais feliz.
Escreve Rosabeth: "Mesmo nas melhores companhias, o desenvolvimento de novas políticas de recursos humanos ficou muito atrás das avassaladoras mudanças na estrutura organizacional ou na cultura das corporações. As pessoas sentem muito frequentemente que as formas tradicionais de segurança (no emprego) foram retiradas sem que novas formas as substituíssem".
Dito assim, tenho quase certeza de que o patronato nem tomaria conhecimento, fora um punhado de empresários mais sensíveis. Mas essa desatenção está provocando um efeito bumerangue. "A falta de atenção com o lado humano mina a própria produtividade que se busca alcançar com a nova maneira de se organizar", escreve a professora de Harvard.
Eis aí um capítulo em que o que vale para o mundo empresarial vale para o mundo em geral. Feliz ou infelizmente, o mundo ainda é feito de seres humano e não de estatísticas.

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