São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Segundo turno virou surpresa

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – É até capaz que tenhamos segundo turno na disputa presidencial –mas será uma supresa. Essa é a principal informação que se extrai da pesquisa Datafolha publicada hoje, mostrando que Fernando Henrique Cardoso se afastou ainda mais de Luiz Inácio Lula da Silva.
Fernando Henrique subiu um ponto e ficou com 45%. Lula caiu dois pontos, batendo nos 21%. O candidato tucano tem sete pontos a mais do que a soma de todos os seus adversários. Ainda dá tempo de virar, claro.
A diferença não é grande: basta que Fernando Henrique perca quatro pontos, transferidos aos demais candidatos. Ainda faltam duas semanas e Lula consegue repecurar pontos em algumas regiões estratégicas: Rio Grande do Sul, por exemplo.
É tempo suficiente para alguma denúncia capaz de mover um punhado de pontos percentuais. O PT esforça-se, agora, por mostrar vinculação entre o senador Marco Maciel e o empresário PC Farias através de uma conta-fantasma.
O problema: eleição é como jogo de futebol. Faltam apenas 15 minutos para acabar o jogo e o time perde por dois gols. É possível empatar, claro –mas à medida que o tempo passa, óbvio, fica mais difícil.
Mais difícil ainda se o time perdedor, no tempo que resta, jogar mal. Fernando Henrique Cardoso ainda tem trunfos: o salário mínimo aumentado começa a ser desovado por esses dias e a inflação deve ficar abaixo de 2%.
Existem até fatos menores, mas de repercussão nesta semana: a adesão pública de artistas identificados com a resitência democrática como Gilberto Gil, Paulo Autran, Regina Duarte.
Essa adesão mostra um dos fatos marcantes dessa eleição comparada com a disputa de 1989. Naquela época, os artistas e a intelectualidade, importantes formadores de opinião, subiram em bloco ao palanque de Lula –o mundo dividia-se facilmente entre os "bons" e os "maus".
Desta vez, há em ambos os lados brilhantes cabeças moldadas pela luta democrática. Ao lado de Lula, por exemplo, Paulo Sérgio Pinheiro, Francisco Weffort e Paul Singer. Ao lado de FHC, há personagens como Bolívar Lamounier, José Arthur Giannotti, Bento Prado e Boris Fausto.

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