São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Abrir empresa com parente é mais difícil

INÊS CASTELO
EDITORA DO TUDO

Montar uma empresa com parentes requer mais cautela que fazer uma sociedade com estranhos. O risco de misturar problemas pessoais e profissionais é grande e as chances de tomar decisões analisadas com a emoção, também.
Renato Bernhoeft, 51, consultor especializado em conflitos empresariais, acredita que as possibilidades de sucesso de uma empresa formada por estranhos são maiores que as de uma sociedade familiar.
"Os sócios atuam com mais liberdade e a relação é sem vícios, sem passado. Os problemas são resolvidos às claras e de forma mais objetiva", diz.
Cristina Bachert, 31, da PHDE Consultoria, acredita que uma sociedade em família só funciona se seus membros conseguirem delimitar o que é relacionamento profissional do lado emotivo e passional que existe na relação familiar. "E isso não é fácil."
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em julho, mostra que o paulistano tem o pé atrás quando se trata de sociedade.
Apenas 9% dos entrevistados que planejam abrir um negócio escolheriam um irmão como parceiro. 5% escolheriam os pais e 13%, a mulher ou marido (veja quadro ao lado).
A Quinteto é uma confecção formada por pai, mãe e três filhas da família Almeida Leitão. Todos com participação igual.
Os cinco moram e trabalham juntos há dez anos. Este ano, procuraram assessoria dos consultores do Sebrae. A família começava a se ressentir dos problemas da confecção.
Segundo Cristiane Beckner de Almeida Leitão, 25, uma das filhas, a família acabava trabalhando 24 horas por dia. "Agora estamos conseguindo separar mais as coisas."
"Redefinimos as funções de cada um, os objetivos da empresa e estabelecemos limites", diz.
Casal
A sociedade marido e mulher lidera o ranking das mais difíceis na opinião dos consultores.
"Esse tipo de empresa mescla duas relações com dinâmicas parecidas e interesses muito diferentes. O desgaste pode ser muito grande", diz Bernhoeft.
O casal Regina, 30, e Horácio Padovan, 37, sócios há quatro anos da fábrica de meias Inverness, diz que o segredo é saber dosar assuntos de trabalho e de família.
"Basta saber até onde ir", diz Horácio. Segundo ele, a grande vantagem é ter um sócio 100% confiável.
Pai X filho
Quando se trata de sociedade entre pais e filhos o grande problema é o conflito de gerações, que pode refletir em objetivos diferentes para o mesmo negócio.
Para Bernhoeft, o mais indicado é que os componentes de uma sociedade estejam em fases de vida parecidas e tenham projetos semelhantes. "Pais e filhos normalmente atravessam momentos muito diferentes."
Quando os sócios são irmãos, rixas e situações mal resolvidas do passado podem atrapalhar decisões da empresa.
Diego Sicherle, 22, que produz junto com o pai, mãe e tio, os molhos e geléias da marca Buon Gustaio, se ressente de mudanças na vida familiar.
"Os problemas da empresa são resolvidos informalmente em casa e acabam estressando a vida familiar. Parece que não existe mais lazer entre as pessoas", diz.
Montada há um ano e meio, a Buon Gustaio já perdeu um de seus integrantes, o irmão de Diego, Francesco, que preferiu trabalhar em uma empresa de porte maior.
Luiz Almeida Marinz Filho, 44, antropólogo e consultor de empresas, acredita que as dificuldades aparecem quando a empresa cresce e começa a dar lucro. "Os sócios são unidos na pobreza", diz.
Para ele, a única forma de evitar uma ruptura é enfrentar os problemas quando eles aparecem. "Deixar o tempo passar só deteriora as relações." Vale a pena ainda fazer um contrato definindo, entre outras coisas, estratégias, objetivos e responsabilidades de cada sócio da empresa (veja quadro ao lado).

Próximo Texto: COMO REDUZIR CONFLITOS ENTRE SÓCIOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.