São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 1994
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EUA iniciam ocupação do Hait

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Os EUA iniciaram ontem a sua segunda ocupação do Haiti, 60 anos depois do final da primeira, que se estendeu de 1915 a 1934.
No início da manhã, fuzileiros navais tomaram o porto da capital do país. Às 9h30 locais (10h30 em Brasília), soldados do Exército transportados por helicóptero se apossaram do aeroporto de Porto Príncipe.
No final do dia, 3.000 militares norte-americanos estavam em posições estratégicas na capital. Não houve resistência. O único problema foi a desidratação de alguns soldados dos EUA.
Ao recepcionar na Casa Branca a delegação que obteve domingo o acordo com os militares haitianos, o presidente Clinton alertou que a situação "ainda é incerta, ainda oferece riscos" para os EUA.
Clinton agradeceu ao ex-presidente Jimmy Carter, ao general Colin Powell e ao senador Sam Nunn, que fecharam o tratado com o regime militar haitiano, apesar das desavenças entre ele e Carter durante o processo.
O presidente do Haiti no exílio, Jean-Bertrand Aristide, não estava presente. Seus assessores dizem que ele ficou muito contrariado com os termos do acordo de domingo. Simpatizantes de Aristide protestaram em Miami.
Perguntado sobre a reação de Aristide, Clinton respondeu: "Isso, ele mesmo é quem tem de determinar".
Pelo acordo, Cedras se mantém no poder até o dia 15, prazo dado para o Parlamento haitiano, controlado por ele, votar uma lei de anistia que vai beneficiar os integrantes do regime militar.
Cedras recebeu ontem por uma hora o comandante da "Operação Sustentar a Democracia", general Henry Shelton. Se a invasão tivesse ocorrido, a operação se chamaria "Restaurar a Democracia".
Shelton disse que Cedras foi "muito cooperativo" e que soldados haitianos ajudarão as tropas dos EUA em missões arriscadas.
Pesquisa de opinião pública realizada depois do acordo, divulgada ontem pela rede de TV ABC, mostrou pela primeira vez mudança do sentimento da população quanto à intervenção do Haiti: 51% dos consultados apoiaram a ocupação pacífica; até sexta-feira, pelo menos 60% dos entrevistados se opunham à idéia de invasão.
Senadores dos partidos do governo e da oposição criticaram os termos do acordo, em especial a permanência de Cedras no poder por mais 25 dias.

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