São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 1994
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Fita expõe diferenças entre Clinton e Carter

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter contradisse e criticou seu sucessor Bill Clinton depois de ter fechado o acordo que evitou a invasão do Haiti.
Em entrevista à TV CNN na manhã de ontem, Carter afirmou que, quando a notícia da decolagem de aviões norte-americanos com os primeiros invasores chegou à sala em que estava reunido com os militares haitianos, as negociações quase foram encerradas.
"Fiquei muito desanimado, porque tudo o que tínhamos conseguido com tanto trabalho quase foi por água abaixo", disse Carter.
No domingo à noite, Clinton afirmou em pronunciamento pela TV que os militares haitianos só aceitaram o acordo depois de terem tomado conhecimento da decolagem dos aviões.
Na avaliação de Carter, que não havia sido informado por Clinton do horário previsto para o início da invasão, a notícia da partida dos aviões foi "muito perturbadora".
Já a bordo do Boeing 707 do governo dos EUA que o levou de volta a Washington, Carter conversou por telefone com seu assessor Robert Pastor, que havia ficado no Haiti para representá-lo.
Os dois comentaram os termos do discurso em que Clinton anunciou o acordo ao país e lamentaram que o presidente continuasse se referindo a Raoul Cedras e seus colegas como "ditadores".
Um rádio-amador captou a conversa, gravou-a e passou cópias dela a emissoras de rádio e TV.
Ontem, Clinton só se referiu ao líder militar haitiano como "general Cedras" e chegou a elogiar seu "senso de honra".
Carter chegou a Washington às 2h45 de ontem (3h45 em Brasília) e foi direto para a Casa Branca. Às 9h, ele e seus colegas de missão, o senador Sam Nunn e o general Colin Powell, foram recebidos por Clinton e falaram a jornalistas.
O assunto da tensão entre Clinton e Carter foi levantado. O atual presidente disse ter dado a seu predecessor prazo até 12h de domingo para fechar o acordo e depois o estendeu por mais três horas.
Às 16h, Clinton disse ter-se convencido de que Carter não teria sucesso e ordenou o início da invasão. O presidente disse que, "apesar da longa amizade" (com Carter), chegou a considerar a possibilidade de ordenar o seu embarque de volta a Washington por temer pela sua segurança pessoal.
Em público, Clinton e Carter trocaram agradecimentos e elogios. O presidente negou ter-se recusado a autorizar a ida de Carter ao Haiti na semana passada.
Em junho, Clinton e Carter tiveram problemas pessoais na missão do ex-presidente às Coréias, que resultou num acordo nuclear.
Carter, 69, foi o último presidente do Partido Democrata antes de Clinton. Boa parte do atual governo veio da administração Carter. O secretário de Estado Warren Christopher foi subsecretário sob Carter. Apesar disso, no seu Departamento o mal-estar em relação à atuação extra-oficial do ex-presidente é indisfarçável.
(CELS)

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