São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Enredo sem mocinhos

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Interpelado por Fernando Henrique, o senador Marco Maciel informou: não se encontrará nenhum cheque ou documento que o vincule a PC Farias.
Isto não significa que o dinheiro de PC não tenha irrigado a campanha de Maciel para o Senado.
Os dólares sujos do ex-tesoureiro de Collor chegaram efetivamente ao vice de Fernando Henrique. Mas de forma indireta.
Os tucanos avaliavam ontem as chances de o episódio prejudicar Fernando Henrique nesta reta final. Concluiu-se que o caso Maciel não deve pegar.
Parte-se de um precedente: Itamar Franco também teve sua campanha financiada por PC e nada sofreu. No caso de Itamar, aliás, a vinculação é mais direta.
Em 89, a campanha do vice de Collor consumiu perto de US$ 700 mil. O dinheiro foi enviado por PC a Geraldo Farias, assessor direto do hoje presidente da República.
Em Pernambuco, o dinheiro de PC foi recebido pelo comitê de campanha do pefelista Joaquim Francisco, eleito governador.
Integrante do grupo de Francisco, Maciel teve parte de suas despesas de campanha paga pelo comitê do governador, espécie de caixa central da campanha do PFL no Estado.
Esses "esqueletos" foram deixados no armário porque, derrubado Collor, os atores políticos julgaram conveniente pôr um ponto final nas investigações.
O caso de Itamar veio à tona na época da prisão de PC Farias. Foi imediatamente abafado. Não havia interesse político em complicar a vida do novo presidente. A posição contou, diga-se, com a simpatia do PT.
Os petistas também fingiram-se de mortos no instante em que o Congresso decidiu pôr uma pedra sobre as investigações do escândalo do Orçamento.
Com receio de que fosse instalada a CPI da CUT, proposta por Esperidião Amin, o PT, sempre muito combativo, deu de ombros para a articulação que remeteu para a "geladeira" o pedido de instalação de uma CPI das empreiteiras.
O roteiro dos financiamentos de campanha não comporta a presença de inocentes. Note-se que nenhum partido divulga os nomes de seus financiadores. Convive-se, nessa área, na fronteira da delinquência.
Para qualquer eventualidade, Fernando Henrique tem um discurso pronto: dirá que a indicação de Maciel é de responsabilidade do PFL.

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