São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor filmou sem autorização da família

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Glauber Rocha "invadiu" o velório do pintor Emiliano di Cavalcanti (morto em 26 de outubro de 1976, aos 79 anos) para registrá-lo, sem autorização da família. Glauber vestia bermuda. Mário Carneiro, a seu lado, levava a câmera na mão.
Em dado momento, Glauber tirou o véu que cobria o rosto do pintor, o que provocou a reação imediata de Elizabeth, filha do pintor.
O documentário "Di" foi concluído com dinheiro da Embrafilme, que assumiu sua distribuição. O filme ganhou o prêmio Especial do Júri em Cannes, 1976. "Fato inédito, em se tratando de um curta-metragem", segundo Mário Carneiro.
Desde junho de 1979 foi interditado, por liminar concedida pela Justiça do Rio de Janeiro. A interdição foi confirmada por acórdão do Tribunal de Justiça carioca, em fevereiro de 1983, que aceitava a argumentação do advogado de Elizabeth Di Cavalcanti, para quem o filme denigre a imagem do pintor.
Desde 1985 corre uma acão rescisória que tenta reformar a sentença. O advogado Felipe Falcão, que move a ação, acredita que o Tribunal de Justiça já não é o foro competente para julgar a ação, que até então envolvia a família de Di Cavalcanti e a Embrafilme.
Com o fim da Embrafilme, o processo envolve o sucessor dessa empresa, que é a União. O foro adequado, segundo ele, passaria a ser então o Tribunal Regional Federal.
Uma hipótese levantada tanto por Falcão como por Dario Corrêa (advogado da Embrafilme durante o processo) seria a da "desapropriação do filme por motivos culturais".
Com isso, o Estado desapropriaria um bem imaterial (um valor cultural), em desfavor das duas partes (herdeiros de Di e de Glauber). Tanto Corrêa como Falcão não estão seguros da viabilidade jurídica dessa hipótese. Tanto a exibição quanto a copiagem de "Di" estão proibidas.
(IA)

Texto Anterior: 'Di' é o fantasma que ronda obra de Glauber
Próximo Texto: Banguela; Campainha; Currupaco; Pirâmide; Hot dog
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.